‘’Entrai, inclinai-vos e
prostrai-vos: adoremos o Senhor que nos criou, pois ele é o nosso Deus.’’ (cf.
Antífona da Entrada, Vº Domingo Comum)
Com a celebração deste Domingo a Igreja
interromperá o Tempo Ordinário do Ano, o Tempo Comum, para iniciar, com a
Quarta-Feira de Cinzas, o Tempo da Quaresma. A presente Antífona, muito bem
compendia a Liturgia da Palavra exposta no Lecionário Dominical. Conferir: Is
6, 1-2a. 3-8; Sl 137; 1Cor 15, 1-11; Lc 5, 1-11.
À primeira leitura ouvimos a vocação do
profeta Isaías, a partir, de uma teofania, ou seja, uma manifestação de Deus
àquele vidente. Como sabemos Isaías fora um profeta grande para a história da
salvação em Israel. O seu livro encontra-se dividido em três partes: o Livro da
Santidade, o Deutero-Isaías e o
Trito-Isaías. Este, mais conhecido por nós, onde contém os três cânticos do
Servo Obediente que, solenemente, a Igreja, faz-nos ouvir durante os dias da Semana Santa e na Sexta-feira da Paixão do
Senhor.
É fundamentada nesta passagem que a Igreja, na Liturgia da Santa Missa
faz em uníssono aos coros angélicos proclama a santidade de Deus. ‘’Sanctus,
sanctus, sanctus Dóminus Deus Sábaoth.’’ Diante de estupenda visualização, Isaías, fica
atônito a ponto de exclamar: ‘’Ai de mim, estou perdido! Sou apenas um homem de
lábios impuros, mas eu vi com meus olhos o rei, o Senhor dos exércitos.’’
Defronte a esta revelação, o profeta, encontra-se, com Aquele que designá-lo-á,
para uma missão. Lembremo-nos no domingo passado a vocação de Jeremias. Sempre quando
Deus nos chama achamo-nos indignos. ‘’Ai de mim, estou perdido! Sou apenas um
homem de lábios impuros.’’ Ou: ‘’Senhor não sei falar, sou uma criança!’’ Mas,
a vocação é um querer tão somente de Deus! Uma vontade que suplanta em
excelência todas as disposições que, no transcurso da existência, vamos
pautando. Os nossos desejos! As conquistas!
Ela é toda uma mistério! Quando Nosso
Senhor formara o grupo dos Doze, o Evangelista São Marcos diz: ‘’Chamou os que
quis para ficar com Ele.’’ (cf. Mc 3) A
lume desta, vislumbramos o ocorrido com
Isaias: ‘’ (...) um dos serafins voou para mim, tendo na mão uma brasa, que
retirara do altar com uma tenaz, e tocou
minha boca, dizendo: ‘’Assim que isto tocou teus lábios, desapareceu tua culpa,
e teu pecado está perdoado.’’ Ouvi a voz do Senhor que dizia: ‘’Quem enviarei?
Quem irá por nós?’’ Eu respondi: ‘’Aqui estou! Envia-me!’’ Isaías, sentindo-se impotente, mísero,
pecador; é inflamado pelo zelo do Senhor que o chama e distribui, largamente, a
graça necessária à vocação destinada. O encontro com o Senhor da Seara, sempre,
na liberdade, é marcado por uma resposta, portanto, averiguemos as narrações
vocacionais, tanto no Antigo Testamento, quanto no Novo, que a Sagrada Escritura
nos reserva. Samuel que discerne a voz do Senhor da de Eli diz: ‘’Fala Senhor, que
teu servo te escuta!’’ Na hodierna
Liturgia, Isaías: ‘’Aqui estou! Envia-me!’’ A vocação é profundamente marcada
para um ‘’ide’’ respondido Àquela voz inconfundível e graça, na qual, devemos
apoiar o nosso apostolado.
À segunda leitura, da Primeira Carta de
São Paulo aos Coríntios, ouvimos o apóstolo a conclamar à comunidade cristã a
viver segundo o Evangelho de Cristo,
logo, diz: ‘’Quero lembrar-vos, irmãos, o evangelho que vos preguei e que
recebestes, e no qual estais firmes. Por ele sois salvos, se o estais guardando tal qual ele vos foi pregado por
mim. De outro modo teríeis abraçado a fé em vão.’’ Atentemo-nos: Não há
Evangelho sem Cristo e sem a transmissão da fé Nele feita pela Igreja! No Ano
da Fé, como amiúde a Igreja vem nos exortando, somos chamados a viver segundo o
critério do único Evangelho do Pai: Jesus Cristo. Guardado e transmitido pelo
testemunho pela pregação apostólica na e com a Igreja. No mais, além disso, ‘’vêm
do maligno’’. De pregações e interpretações fugidas do autêntico magistério. ‘’por ele sois salvos, se o estais guardando
tal qual ele vos foi pregado por mim.’’ Nesta dita de São Paulo observamos a
integridade doutrinária da igreja e vejamos: de sempre. Quando lemos o texto da
presente missiva é como fizéssemos uma linha temporal e marcando-a chegaremos
aos primeiros.
Ainda discorre o apóstolo acerca
do marco da pregação do Evangelho de Cristo: ‘’Com efeito, transmitir-vos em
primeiro lugar, aquilo que eu mesmo tinha recebido, a saber: que Cristo morreu
por nossos pecados, segundo as Escrituras; que foi sepultado; que, ao terceiro
dia, ressuscitou, segundo as Escrituras.’’ Este é o fato primordial: Cristo
morto e ressuscitado. É o ‘’kerigma’’, o anúncio solene da salvação operada por
Deus em favor dos homens. Disto, é, a
Igreja, desde os apóstolos, anunciadora e guardiã. Paulo ainda divaga
sobre o evento da Ressurreição de Cristo aos primeiros: ‘’ (...) apareceu a Cefas
e, depois, aos Doze. Mais tarde, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma
vez. Depois, apareceu a Tiago e, depois, apareceu aos apóstolos todos juntos.
Por último, apareceu também a mim, como a um abortivo.’’ Eis a condição adotada
por Paulo: ‘’como a um abortivo.’’ Posterior as cruéis perseguições feitas por
Saulo, quis, o Senhor, integrá-lo ao número dos Doze. Mais uma vez
debruçamo-nos no mistério da vocação, como escolha de Deus, unicamente, não
obstante, ao que somos! E o que se torna Paulo? O apóstolo dos gentios! Dos
pagãos. Daqueles, que, como ele, não cria no nome do Filho de Deus, Jesus de
Nazaré.
No
Evangelho, ouvimos o convite do
seguimento a Nosso Senhor de Pedro., Tiago e Simão. Diferentemente de Isaías,
Jeremias, Samuel, São Paulo e alhures, Deus, ao longo dos tempos, continua a
chamar homens, como diz a Carta aos Hebreus, ‘’cercados de fraqueza’’, para
configurar-se a Ele! Na primeira leitura
fomos conduzidos a um glorioso e santo lugar: o Templo! No Evangelho, há um
contraste, quanto ao chamamento divino. Ei-lo:
Às margens do Lago de Genesaré. Pescadores simples, iletrados, são
convidados por Jesus a ‘’deixar as redes e o pai’’ e partirem para outras
águas, com outras redes e doutros tipos de peixes. É um absurdo e um tremendo
mistério. Se fossemos olhá-lo à conjuntura da realidade humana, Deus, seria
tido como um injusto. De qual maneira? Olhemos: o ofício da pesca, ou seja, o
labor para garantir a sustentabilidade; a segurança daqueles que esperavam com
o ofício. Mas é aqui o nó; jamais desvendado por nossos ‘’por que’’. Por que
Senhor? Por que logo os pescadores? Por que logo o publicano Levi? Contentemo-nos: ‘’Ele chamou os que quis para
ficar com ele’’ Eis que é um ficar permanente, para toda a vida, com tudo
aquilo que esta implica, e daquilo que somos!
Chama-nos, o Senhor da Vinha, no nosso
ordinário, chama-nos quando nos pomos debaixo do seu senhorio, Chama-nos na
Beleza da Sagrada Liturgia, no ensinamento retilíneo da Igreja, no testemunho
da vida sacerdotal, de maneiras adversas, como há muito, quis servir-se, Ele, o
todo santo, dos elementos da pesca, das redes, do barco e como disse a Pedro: ‘’Avança
para águas mais profundas, e lançai vossas redes para pesca.’’ Esta palavra de
Jesus só pode ser atendida com a fé obediente. É a atitude de Simão: ‘’Mestre,
nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra,
vou lançar as redes.’’
Meus irmãos, ainda
no Evangelho que a Liturgia de hoje nos reserva, não podemos de fazer
referência aos ‘’primado petrino’’, apontado nalgumas menções de Jesus e nos
gestos. Diz o texto sagrado: ‘’Subindo numa das barcas, que era de Simão, pediu
que se afastasse um pouco da margem. Depois sentou-se e, da barca, ensinava as
multidões.’’ Quais são os significados destas posturas de Cristo? São, justamente, os significados
profundíssimos que representam. A barca é sinal da Igreja que navega no mares
mais bravios desta terra, mas é desta barca que o orbi católico cristão é
exortando e ensinado pelo Vigário de Cristo e sucessor do apóstolo Pedro. A
Barca de Pedro não mais usada para agremiar peixes, mas para, nos meios de
salvação nela existente através dos sacramentos e da pregação salvar o homem!
Outra atitude deste primado é quem primeiro lança as redes: Pedro! É com ele
que todos os batizados, também, formando a Igreja de Cristo é chamada a dar o
perfeito testemunho de Cristo na vocação escolhida. Sempre é Pedro! Nunca sem
este! Com razão dizia Escrivá de Balaguer: ‘’Com Pedro, por Maria a Jesus!’’
Por fim, vejamos, o
quão frágil é Pedro: ‘’Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador.’’ Apraz-nos
recordar do papa Bento XVI, quando do instante primeiro do seu ministério à Cátedra
de Pedro:’’ Depois do grande Papa, João Paulo II, os senhores cardeais
escolheram a mim! Um simples e humilde trabalhador da Vinha do Senhor!’’ Esta é
a grande atitude de quem se reconhece pequeno, frágil, indigno, como Isaías,
Simão Pedro, Paulo, como que a um abortivo, mas, na serenidade e confiança que
Aquele ‘’que os chamou é fiel’’, põe-se ‘’ao largo para lançar as redes.’’ E
nas sendas da vida, deixando as benéfices, ‘’levamos as barcas para a margem,
deixamos tudo e seguimos a Jesus.’’ A Ele, o Apóstolo do Pai, a glória e a
imortalidade pelos séculos infindos. Amém!