Eu sou a
salvação do povo, diz o Senhor. Se clamar por mim em qualquer provação eu o
ouvirei e serei seu Deus para sempre.
São com estes períodos, contidos na
Antífona da Entrada da Santa Missa Dominical, que principiamos a nossa reflexão
acerca deste Vigésimo Quinto Domingo Comum. O que são as provações? Cravemos os
nossos olhares e abramos os nossos ouvidos ao que sabiamente enaltece a
Escritura Sagrada quanto a indagação. Eis as benditas palavras do Eclesiástico:
Meu Filho, se te ofereceres para servir
ao Senhor, prepara-te para a prova. Endireita teu coração e sê constante, não
te apavores no tempo da adversidade. Une-te a ele e não te separes, a fim de
seres exaltado no teu último dia. Tudo o que te acontecer, aceita-o, e nas
vicissitudes que te humilharem sê paciente, pois o ouro se prova no fogo, e os
eleitos, no cadinho da humilhação. Na doença e na indigência, conserva tua
confiança. Confia no Senhor, ele te ajudará, endireitai teus caminhos e espera
nele. (cf. Ecl. 2, 1 sg.)
Desta feita, recobremos a precedente
Liturgia do Vigésimo Quarto Domingo. Nosso Senhor, após ouvir a solene e intrépida
profissão de fé petrina, anuncia aos seus seguidores, às turbas, o que
suceder-lhe-ia ao chegar à cidade santa de Jerusalém que o Filho do homem
sofreria em demasia, seria rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e doutores
da Lei; devia ser morto, e ressuscitar após três dias. Pedro censura o Senhor.
Como pode se conceber um Messias fraco? Esperara-se um Libertador com aquele
poderio de Elias que fora arrebatado na carruagem de fogo, ou, ainda, tal qual
Isaías e Jeremias, profetas valentes. Jesus, logo, repreendera-o: ‘’Afasta-te
de mim Satanás! Tu não pensas como Deus, mas como os homens.’’
O nosso Messias Santo é
segundo a profecia de Zacarias: ‘’Dizei à
Filha de Sião: Eis que o rei vem a ti, manso e montado num jumento, num
jumentinho, num potro de jumenta.’’ (cf. Zc, 9, 9)
À primeira leitura pertence ao bloco da
Literatura Sapiencial, o Livro da Sabedoria. ‘’(...) se, de fato, o justo é
‘Filho de Deus’, Deus o defenderá e o livrará das mãos dos seus inimigos. Vamos
pô-lo à prova com ofensas e torturas, para ver a sua serenidade e provar a sua
paciência (...)’’ Diletos irmãos
cristãos esta é a terribilíssima concepção dos iníquos, ou seja, aqueles que
não esperam em Deus, todavia em seus estratagemas e maquinações. Pronto!
Reparemos o redemoinho do mundo que almeja as facilidades na vida fútil; oca! O
justo, à qual a Escritura refere-se, é deveras o sensato que não põe a sua
segurança no homem, porque uma vez colocada, logo ruirá.
Nós que militamos, imersos no
‘’lacrimarum valle’’, somos, consoante São Paulo ‘’provados de todos os lados’’
sobretudo, na conjuntura da pluralidade dos analgésicos que os malfeitores
oferecem às turbas, para gozarem duma existência fantasiosa. Quem pois, é fiel
discípulo do Filho de Deus, precisa permanecer cônscio que cruzará com a ‘’via
crucis’’ com a abnegação da própria vida. Lembremo-nos da feliz advertência de
Jesus: Se alguém me quer seguir, renuncie
a si mesmo, tome sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida
perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai
salvá-la.
Nas adversidades do quotidiano aí é que
somos provados, precisamos da maturidade dos santos, da têmpera dos mártires,
de ficarmos em pé sob a cruz como Maria
Santíssima, João, o Apóstolo...
À segunda leitura da missa, da Epístola de
São Tiago, é uma exortação para honrarmos o nome de cristãos. Onde há inveja e rivalidade, aí estão as
desordens e toda espécie de obras más. Por outra parte, a sabedoria que vêm do
alto é, antes de tudo, pura, depois pacífica, modesta, conciliadora, cheia de
misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento.’’ A sabedoria,
no Antigo Testamento, sempre fora visualizada, ainda que patente, como
personificação da encarnação do Logos, do Verbo Eterno de Deus. Na plenitude
dos tempos ei-la pois: Jesus, o Santo Cristo. Diz-nos o apóstolo dos gentios: Tendes em vós, os mesmos sentimentos
existentes em Cristo Jesus.
Permitamo-nos no copioso exercício da vida
do Filho de Deus, que, sempre, procurou agradar Àquele que o enviará, o Pai.
Detestemos todas as ações que se desviam
da benevolência do Cristo. Sim! É Ele o Homem
perfeito e nós, como que atletas, esforçamo-nos, para chegar a estatura do Novo Adão.
Quanto ao Evangelho, a
Liturgia hodierna, apresenta-nos o segundo anúncio da Paixão do Senhor. Há,
contudo, agora, uma agravante entre aqueles que com Jesus subiam a Jerusalém. A Palavra de Deus mostra o quanto o homem
tende a desviar-se do plano salvífico: ‘’Israel,
quanto dista o céu da terra tal qual dista os meus pensamentos dos vossos
pensamentos.’’ Os discípulos
discutiam ente si ‘’quem era o maior!’’ Aqui estar uma mentalidade dos negócios
dos homens. Saber qual o holofote que mais alumia, tentar perlustrar quem fez
mais, quem deu mais, enfim, como aqueles primeiros, saber quem o maior!
Jesus inverte os pseudos-valores. O maior
não é um herói, um super- homem, mas sim, o que serve. Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele
que serve a todos! Exclamara Jesus ao Colégio dos Doze primeiros, à Igreja
mesmíssima de ontem, de hoje e de sempre. O critério fundante do
discípulo-apóstolo do Senhor, ramo da sua Jerusalém, da sua Esposa é a diaconia. É depor a capa e cingir-se com
o gremial da Quinta-Feira Santa. Dobrar-se aos pés de alhures como é mister a
quem tem espírito de apóstolo. Vejamos, caros meus, Jesus é por antonomásia o
Diácono da Humanidade. Ao inclinar-se diante dos pés, ao deitar água, faz ele
um gesto de ‘’kenosis’’, anunciando a
sua oblação total na ara da cruz. Eis irmãos! O nosso Divino Salvador
quebrou-se por inteiro. Serviu até o extremo! Por isso mesmo que, solenemente, exclamara
o apóstolo João, narrando o Testamento da Caridade. Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim!( cf. Jo,
13)
Oxalá, disponhamo-nos tudo para todos,
pois o ‘’Filho do Homem veio par servir e não para ser servido.’’ A Ele, que é
o Alfa e o Ômega, a doxologia eterna! Amém!