A
Igreja celebra o Vigésimo Sétimo Domingo do Tempo Ordinário. É preciso
robustecer a nossa feliz esperança que
herdamos quando do dia do nosso Batismo e a cada domingo experimentamos o
antegozo da vida quão bem-aventurada, a eternidade. Passando o mundo de
transeuntes chegue, em sua plenitude, o Reino de Deus, ou seja, o advento
definitivo do Ungido do Senhor.
A
Liturgia da Palavra propõe-nos o lecionário do Livro dos Gênesis (cf.2, 18-24),
Salmo 127, a Epístola aos Hebreus( cf. 2, 9-11) e o Evangelho de São Marcos(
10, 2-16). À primeira leitura ouvimos a narração em que após Deus plasmar Adão
à sua imagem e semelhança, outorga-lhe a administração das outras criaturas. ‘’Então o Senhor Deus formou da terra todos
os animais selvagens e todas as aves do céu, e trouxe-os a Adão para ver como
os chamaria; todo ser vivo teria o nome que Adão lhe desse.’’ Contemplamos
aqui a primazia do homem. Dentre as criaturas, feitas do nada, o ser humano,
dotado de predicativos únicos, a saber: a inteligência, a vontade e a
liberdade, é vocacionado, através do ato criador do amor, a contribuir com o
desenvolvimento do cosmos, cuja mácula do pecado original, sujeitou toda a
criação.
Na
paulatina história da criação aprouve ao Onipotente confiar ao homem, como
afirma o texto sagrado, ‘’uma auxiliar
semelhante a ele’’ diante das obras criadas, nenhuma, ainda, o era
semelhante. Então. Eis! ‘’O Senhor Deus
fez cair um sono profundo sobre Adão. Quando este adormeceu, tirou-lhe uma das
costelas e fechou o lugar com carne. Depois, da costela tirada de Adão, o
Senhor Deus formou a mulher e conduziu-a a Adão. E Adão exclamou: Desta vez,
sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne!’’ Quão misteriosa e
estupenda é esta passagem da Escritura! Como compreendê-la? Qual a via? Qual a
acessibilidade? Ei-la pois: o entranhado e único Amor. Deus, a Trindade
Santíssima!
‘’A
mulher, ‘’carne de sua carne’’, isto é, um auxílio.(cf. CIC-1605) No
mistério da criação, o Senhor, dá ao homem uma companheira. Eva, a mulher, a
vivente. A unidade de ambos é relacionada com uma ordem:’’o homem deixará seu pai e sua mãe e unir-se-á à sua mulher, e eles
serão uma só carne.’’ A partir desta, observar-se, um querer divino à raça
dos nossos primeiros pais, a família humana e que se perpetua até aos nossos
dias. É bem verdade e evidente que na conjuntura da sociedade atual o vocábulo
‘’família’’ é ilusoriamente e outrossim inverossímil pluralizado. Admoesta-se
os nossos filhos com uma gama de conceitos e tipos. Família, a saber, é a
união, através da aliança matrimonial, do homem com a mulher, a fim de garantir
a perpetuação da prole, conforme a bendita dita do Senhor:’’ Crescei e multiplicai-vos’’ . Existem
muitos que referem-se a esta realidade como retrógrada e inconcebível à mentalidade
do século vinte e um. Ademais há uma série de afirmações. Quais, deveras, os
pseudos-intentos aí manifestados? A banalização da instituição mais sagrada e
célula-mater da sociedade que é a família, subtraindo o arcano desejo de Deus
que a união entre o homem e a mulher fossem elevados à dignidade de Matrimônio,
cuja prefiguração, vê-se na criação dos mesmos.
No
Salmo Responsorial vemos de maneira poética, o salmista, tercendo elogio a
Israel: ‘’A Tua esposa é uma videira bem
fecunda no coração da tua casa, os teus filhos são rebentos de oliveira ao
redor de tua mesa.’’ O sacramento do Matrimônio, bem como o sacramento da
Ordem, estão inscrito na listas dos sacramentos de serviço e missão, destarte, a
aliança conjugal é destinada à formação da família, a educação humana e cristã
dos filhos, como, quando no dia em que diante de Deus, da Igreja e da
assembleia, dois cristãos, numa só carne, prometeram, na aliança matrimonial
que é indissolúvel, educar a sua prole na Lei de Deus e da Igreja.
À segunda leitura, extraída da Epístola aos
Hebreus, a referente missiva, consoante alguns estudos exegéticos, é atribuída
ao apóstolo São Barnabé, outros, ainda, afirmam pertencer a uma coletânea de
homilias de uma grupo de sacerdotes. A epístola é um tratado, cujo tema central
é o sacerdócio de Cristo. Comparado a Melquisedec e aos levitas. Cristo Jesus,
Senhor nosso, é o sacerdote por antonomásia, pois é Nele mesmo que o Pai realiza
a reconciliação do Gênero humano mediante a sua oferta na ara da cruz. Para
gesto quão solene e único, fora preciso que, se fizesse homem, ‘’viveu em tudo a condição humana, exceto o
pecado .’’ ‘’Convinha de fato que aquele,
por quem e para quem todas as coisas existem, e que desejou conduzir muitos
filhos à glória, levasse o iniciador da salvação deles à consumação, por meio
de sofrimentos.’’ O nosso sacerdote Jesus, com uma carne semelhante a
nossa, nos remiu e por conseguinte deu-nos com a oblação de sua vida na árvore
da cruz a acessibilidade da eternidade, perdida com a primeira queda. ‘’Um por todos ele aceitou ser pregado na
cruz.’’ Assim reza a Igreja num dos prefácios da paixão. Cristo, o Sumo e
Eterno sacerdote, continua nos altares, a perpetuar, através do ministério dos
sacerdotes, a obra consumada na cruz, ‘’pois
todas às vezes que participamos da Eucaristia torna-se presente a nossa
redenção’’.
No Evangelho, a seita dos fariseus, quer
apanhar Jesus nalguma palavra a fim de condená-lo, logo acorrem a Lei de
Moisés, interpretando-a de forma dúbia, perguntando se era permitido ao homem
divorciar-se de sua mulher. Nosso Senhor, logo, censura-os: ‘’ Foi por causa da dureza do vosso coração
que Moisés vos escreveu este mandamento.’’ Jesus é solene e preciso com
esta pontuação. Os fariseus estavam condicionados ao legalismo incapazes de
reconhecer que o Messias prometido nas Escrituras realizava-se em Jesus. A
condição da unidade entre o homem e a mulher numa só carne é elevada a
dignidade de Matrimônio, ou seja, sinal da graça de Deus, nas palavras do
Senhor: ‘’(...) desde o começo da criação
Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os
dois serão uma só carne. Assim, já não dois, mas uma só carne. Portanto, o que
Deus uniu, o homem não separe!’’
O estabelecimento da aliança conjugal é
tido como o tipo da união de Cristo com a Igreja-Esposa na aliança do calvário
como bem ressalta São Paulo na carta aos
Efésios: ‘’Maridos, amai as vossas
mulheres, como Cristo amou a Igreja e se
entregou por ela.’’ A vivência do sacramento do matrimônio só pode ser entendida
à luz do Mistério Pascal, ou seja, na mútua e total entrega que os cônjuges são
chamados a fazer. O sacrifício dos esposos é a via de santificação e participação
à paixão do Redentor. Para o mundo hodierno esta concepção não existe,
sobretudo, àqueles, que veem o casamento como uma simples união abstraindo o
predicativo de sacramento.
Confiemos na Celebração da Sagrada
Eucaristia, no altar, signo da aliança do Senhor com a Igreja, os nossos casais
para que, não obstante as adversidades da missão confiada, nutram suas vidas
com o Sagrada Eucaristia, e, como no dia em que se entregaram um ao outro em Matrimônio
mereçam a companhia dos santos na glória dos céus. Ao Cristo, sempiterno Rei, a
soberania e a adoração pelos séculos infindos. Amém!
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