Discurso de Bento XVI em Assis: Papa fala sobre as tipologias da violência no mundo de hoje
Cidade do Vaticano (RV) - As religiões jamais podem ser motivo de violência. Os credos e o diálogo inter-religioso são e devem ser baseados na paz.
Foi a evocação feita por Bento XVI, nesta quinta-feira, em Assis, diante dos expoentes de todas as religiões do mundo, e de um grupo de agnósticos, por ocasião de uma nova Jornada mundial de oração e de reflexão pela paz, à distância de 25 anos do histórico encontro realizado por iniciativa de João Paulo II.
O Papa e os cerca de 300 participantes do encontro "Peregrinos da verdade, peregrinos da paz" chegaram pela manhã à cidade de São Francisco a bordo de um trem.
O Pontífice viajou no vagão 2, localizado na parte traseira do trem, com o Cardeal Secretário de Estado Tarcísio Bertone, acompanhado do Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, e de outros renomados expoentes das religiões mundiais. O trem chegou a Assis às 9h45 locais.
No final manhã, o Santo Padre dirigiu-se aos participantes na Jornada de Reflexão em Assis. O Pontífice iniciou seu discurso lembrando que “passaram-se vinte e cinco anos desde quando, pela primeira vez, o beato Papa João Paulo II convidou representantes das religiões do mundo para uma oração pela paz em Assis”. E então pôs as questões: “o que aconteceu desde então? Como se encontra hoje a causa da paz?”.
“Naquele momento – disse o Papa -, a grande ameaça para a paz no mundo provinha da divisão da terra em dois blocos contrapostos entre si. O símbolo saliente daquela divisão era o muro de Berlim que, atravessando a cidade, traçava a fronteira entre dois mundos. Em 1989, três anos depois do encontro em Assis, o muro caiu, sem derramamento de sangue. Inesperadamente, os enormes arsenais, que estavam por detrás do muro, deixaram de ter qualquer significado. (…) Enfim, a vontade de ser livre foi mais forte do que o medo face a uma violência que não tinha mais nenhuma cobertura espiritual”.
Bento XVI continuou afirmando que, desde então, “infelizmente, não podemos dizer que desde então a situação se caracterize por liberdade e paz. Embora a ameaça da grande guerra não se aviste no horizonte, todavia o mundo está, infelizmente, cheio de discórdias”. Então o Papa falou sobre o terrorismo, e deste ressaltou a motivação religiosa que, muitas vezes, serve como justificativa para o que o classificou de “crueldade monstruosa, que crê poder anular as regras do direito por causa do «bem» pretendido”. “Aqui a religião não está ao serviço da paz, mas da justificação da violência”. E acrescentou: “o que os representantes das religiões congregados no ano 1986, em Assis, pretenderam dizer – e nós o repetimos com vigor e grande firmeza – era que esta não é a verdadeira natureza da religião. Ao contrário, é a sua deturpação e contribui para a sua destruição”.
O Santo Padre falou sobre uma segunda tipologia de violência, ou seja, “a consequência da ausência de Deus, da sua negação e da perda de humanidade que resulta disso”. “Aqui, porém, não pretendo deter-me no ateísmo prescrito pelo Estado – fez a ressalva -, queria, antes, falar da «decadência» do homem, em consequência da qual se realiza, de modo silencioso, e por conseguinte mais perigoso, uma alteração do clima espiritual. A adoração do dinheiro, do ter e do poder, revela-se uma contra-religião, na qual já não importa o homem, mas só o lucro pessoal”.
Então o Papa falou sobre o mundo do agnosticismo, que destacou estar em expansão. “Tais pessoas não se limitam a afirmar «Não existe nenhum Deus»”, disse o Santo Padre, mostrando que elas estão em busca da verdade e do bem, andando em direção à Deus portanto. “Colocam questões tanto a uma parte como à outra – afirmou o Pontífice. Aos ateus combativos, tiram-lhes aquela falsa certeza com que pretendem saber que não existe um Deus, e convidam-nos a tornar-se, em lugar de polêmicos, pessoas à procura, que não perdem a esperança de que a verdade exista e que nós podemos e devemos viver em função dela”.
Bento XVI ainda chamou a atenção para o fato de que os agnósticos “chamam em causa também os membros das religiões, para que não considerem Deus como uma propriedade que de tal modo lhes pertence que se sintam autorizados à violência contra os demais”.
Concluindo, o Papa assegura de que “a Igreja Católica não desistirá da luta contra a violência e do seu compromisso pela paz no mundo”.
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