O Cardeal Ratzinger desvenda o verdadeiro sentido da salvação através da beleza, da via pulchritudinis: “Quem não conhece a frase tantas vezes citada de Dostoyevsky: ‘A beleza é que nos há de salvar’? No entanto, quase sempre é esquecido recordar que, com esta beleza salvadora, Dostoievski está a pensar em Cristo. A Ele é que precisamos aprender a ver. Quando não O conhecemos apenas por palavras, mas somos atingidos pela seta da Sua beleza paradoxal, então é que O conhecemos verdadeiramente e ficamos a saber sobre Ele, sem ser apenas em segunda mão. Então, teremos encontrado a beleza da verdade, da verdade redentora.
Nada há que melhor nos possa pôr em contato com a beleza do próprio Cristo do que o mundo do Belo criado pela fé, bem como a luz resplandecente no rosto dos santos, através da qual se torna visível a Sua própria luz.
A beleza que salva é, portanto, Jesus Cristo, que, segundo a feliz expressão de São Boaventura, é a manifestação por excelência, pulchritudo omnium pulchritudinum. O cristão somente alcançará essa plenitude na medida em que seu desejo de perfeição busque amorosamente o Bom Pastor.
De fato, Cristo Pastor Belo (Jo 10,11) é para a fé cristã a própria Revelação da beleza incriada vista sob dois aspectos sublimes: primeiro, a beleza harmoniosa do mais formoso entre os filhos dos homens (Sl 45,3), e, segundo, a misteriosa beleza do varão de dores ante quem se volta o rosto (Is 53,2). Em sua natureza humana unida à divina, Jesus é a matriz de todas as belezas estéticas; em sua paixão e morte de Cruz é a fonte causal e inspiradora de toda beleza moral.
Coerente com este duplo aspecto da beleza de Cristo, o cristão só realiza sua missão quando alcança a plenitude dessa forma Christi. Na luz da santidade e na beleza do sofrimento bem aceito, a luz de Cristo resplandece no exterior do cristão, servindo de salvação para os não-cristãos. Por isso, em Cristo – e só nele – nossa via crucis, se transforma em via lucis. Esta é a plenitude da via pulchritudinis.
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