sábado, 21 de maio de 2011

Estímulo elétrico na medula espinhal põe paraplégico de pé.

Técnica está em desenvolvimento em duas universidades americanas.


O americano Rob Summers, de 25 anos, paraplégico desde 2006 devido a um acidente de trânsito, conseguiu se levantar, ficar de pé e caminhar, graças a uma combinação pioneira de estímulo elétrico na medula espinhal e treino físico. A conquista é fruto de uma pesquisa do Kentucky Spinal Cord Research Center, da Universidade de Louisville, e da Universidade da Califórnia, ambas nos Estados Unidos, que publicaram um artigo na última edição da revista médica The Lancet.

Summers é capaz de manter-se de pé durante vários minutos, dando ele mesmo o impulso muscular necessário para se levantar. Com ajuda, consegue ainda dar alguns passos e movimentar de maneira voluntária os quadris, os joelhos, os tornozelos e os dedos dos pés. O americano recuperou ainda parcialmente o funcionamento de seu órgão sexual e de sua bexiga. Os avanços são fruto de um tratamento apoiado em dois elementos fundamentais: a estimulação epidural da medula espinhal e um intenso programa de treinamento físico.

Os pesquisadores basearam seu projeto na estimulação elétrica epidural contínua e direta da parte inferior da medula espinhal do paciente, simulando os sinais que o cérebro transmite em condições normais para iniciar um movimento. Quando o sinal é transmitido, a própria rede neurológica da medula, em combinação com a informação sensorial que as pernas enviam à medula, é capaz de dirigir os movimentos do músculo e das articulações necessários para erguer o corpo e caminhar, sempre com a ajuda de outras pessoas.

O outro aspecto chave do trabalho foi "reeducar" as redes neurológicas da medula de Summers para produzir o movimento muscular necessário para ele se levantar e caminhar. O processo do treinamento durou mais de dois anos, após o paciente ter passado por uma cirurgia que implantou nas costas um dispositivo de estimulação elétrica, que é o responsável pela voluntariedade dos movimentos.

Os professores Susan Harkema e Reggie Edgerton, responsáveis pela pesquisa, esperam ainda que o trabalho permita que os pacientes que sofreram lesões medulares levem uma unidade portátil de estímulo elétrico. O objetivo é ajudá-los a se levantar, manter-se de pé e caminhar de maneira independente, embora sempre com a ajuda de um andador. "É um grande passo, que abre uma grande oportunidade para melhorar a vida diária desses indivíduos, mas ainda temos um longo caminho a percorrer", disse Harkema.

Segundo Edgerton, as redes neurológicas são capazes de iniciar os movimentos que permitem suportar peso e dar passos relativamente coordenados sem nenhum tipo de informação procedente do cérebro. "Isto é possível em parte graças à informação que as pernas enviam de volta, mas diretamente à medula espinhal", disse. Segundo ele, a retroalimentação dos pés e pernas para a medula melhora o potencial do indivíduo de manter o equilíbrio e decidir sobre a direção que vai caminhar e o nível de peso que suporta. "A medula pode interpretar estes dados de maneira independente e enviar instruções de movimento outra vez às pernas, tudo isso sem participação cortical."

Os autores sublinharam também que o caso de Summers é especial, porque embora ele esteja paralisado do tronco até os pés, o americano apresenta uma certa sensibilidade na zona imobilizada. "Este procedimento mudou totalmente minha vida. Para alguém que há quatro anos era incapaz de movimentar um só dedo do pé, ter a liberdade e a capacidade de levantar-se sozinho é uma sensação incrível", diz.

(Com agência Efe)

Fonte: veja.abril.com.br

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