Cidade do Vaticano (RV) -
Especialistas, personalidades políticas, bispos e embaixadores, participaram de três dias de debates dedicados a esse tema, ainda pouco conhecido pelo grande público e que surge como uma alternativa ao recurso às células embrionárias. Para conhecer melhor o assunto, a RV entrevistou o Padre Hélio Luciano, da Diocese de Florinanópolis, estudante de Bioética na Universidade Biomédica de Roma. Especialista no tema, ele explica primeiramente o que é uma célula-tronco:
“É uma célula que é capaz de se diferenciar em outros tipos de células. Há vários tipos de células-tronco: adultas, embrionárias e de vários tecidos diferentes que podem ser recolhidas. Uma definição geral é que ela é uma célula que pode se diferenciar em tecidos aonde não se localiza. Uma célula-tronco do sangue pode se tornar uma célula muscular, por exemplo”.
“Um caso que emergiu nesta Conferência do Vaticano: foi apresentado um caso de um coração que tinha muitas células, em toda a sua parte inferior, com deficiências bastante grandes, porque havia falta de irrigação sanguínea. Muitas estavam mortas e havia uma deficiência cardíaca bastante significativa. Pegaram células-tronco da medula óssea, milhares, mas são poucas para regenerar um órgão. Retiraram estas células, as isolaram, cultivaram para que se reproduzisse muito e as injetaram no coração com déficit. O tecido cardíaco conseguiu se regenerar, não 100%, mas em grande parte conseguiu voltar a ter funções normais. Estas células, que estavam dentro da medula óssea, que eram indiferenciadas ainda, como se diz na medicina, ao entrar em contato com as células cardíacas defeituosas, mortas, conseguiram se transformar em células cardíacas funcionais. Em contato com outro tecido, elas se transformam neste tecido por serem ainda indiferenciadas”.
“O que se tem feito ultimamente é o auto-transplante, retirando células da mesma pessoa, mas existem estudos com transplantes de outras pessoas. A reunião do ano passado na Academia Pontifícia das Ciências foi sobre os bancos de cordão umbilical, e foi falado justamente que não há necessidade de cada um reservar o seu cordão, mas poucos, porque podem servir para muitos. A proporção – acredito – pode ser de cerca de 50 mil para uma população de 1 milhão”.
Para a Igreja católica, esta pesquisa tem a vantagem que não interfere na vida desde a sua concepção, ao contrário da retirada das células de embriões, não?
“É claro, esta é a grande intenção da Igreja, deste Congresso no Vaticano: mostrar isso, que a Igreja não é contra nada. A Igreja é a favor da vida e nos pontos em que toca a vida, em que se pode matar uma pessoa para tentar salvar outra, não se justifica. Agora, com as células-tronco adultas, é muito positivo. O presidente da Pontifícia Academia da Vida, numa intervenção nesta Congregação, falou que o primeiro objetivo, o primeiro princípio da Igreja Católica em relação à investigação cientifica é que se faça a pesquisa e neste caso, com células adultas, que não interfere em nada. Outra coisa é retirar uma célula embrionária, que pode se transformar em outros tecidos, mas matando uma pessoa, um embrião. Na prática, se vê que hoje por hoje, as células embrionárias não funcionam neste sentido. Todas as publicações e resultados positivos com células tronco são com células adultas”.
Mas para retirar uma célula de um embrião, ele tem que morrer?
“Primeiro, ele tem que ser fecundado fora do ato sexual, fora do meio devido. Segundo, estas células têm que ser removidas, e ao fazer isto em um embrião com poucas células, logicamente há a destruição deste embrião. Ainda que haja estudos tentando retirar a parte que não se desenvolve no feto, isto é impossível, além do que, sua geração já é contrária à natureza, já é ilícita”.
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