Caros irmãos na fé trinitária: graça
e paz da parte de Deus, nosso Pai e de Jesus Cristo nosso Senhor. Eis que no
peregrinar do Ano Eclesiástico fazemos solenemente a atualização dos mistérios
da nossa salvação executados pelo Cristo, o Filho do Deus vivo como pudemos
vislumbrar, recentemente, o admirável intercâmbio dos céus com a terra, quando,
por libérrima e arcana vontade da Trindade Santíssima o ‘’Logos’’ fez-se carne
nas entranhas fecundíssimas de Maria Virgem, a Mãe de Deus, e ‘’armou a Tenda em
nosso meio’’; ou seja, é um de nós, da raça de Adão, exceto no pecado.
Magnânima verdade,
celebramos, com a Santa Igreja ao transcorrer do curtíssimo, mas mui
significativo Tempo do Natal. Posteriormente a este, iniciamos o Tempo
Ordinário, conhecido como o ‘’Tempo Comum’’. Qual é o significado? O que
representa para a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo? São demasiadas amplas as
respostas. Elas estão na literatura da Sagrada Escritura, os Santos Evangelhos,
os sinópticos e o solene Evangelho segundo São João. Na oração ‘’super-oblata’’,
da Sagrada Liturgia do 2º do Tempo Comum, está, ainda que compendiada, a
resposta. Diz o sacerdote: ‘’Concedei-nos, ó Deus, a graça de participar
constantemente da Eucaristia, pois, todas às vezes que celebramos este
mistério, torna-se presente a nossa redenção.’’
É isto mesmo! Celebrar a Sagrada Páscoa do Senhor
até que venha o seu derradeiro advento, na glória dos céus. Ademais, como já
referimos, no Tempo Ordinário é posta a tônica de toda a ação messiânica de
Jesus; os prodígios e obras portentosas executadas na força do Espírito Santo
durante os três anos quando do seu ministério de Máximo Pontífice entre os
homens e o Pai, logo, a Igreja, sabiamente dividiu em três anos (A) São Mateus,
(B) São Marcos e (C) São Lucas cujo Ano Litúrgico celebramos desde o primeiro
do Tempo do Advento.
À partir da óptica teológica
deste evangelista e apóstolo, escutaremos, com profundidade ‘’quem foi Jesus de
Nazaré,’’ já observada noutro livro de sua autoria, os Atos dos Apóstolos: ‘Jesus
de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por
toda parte fazendo o bem e curando a
todos os que estavam dominados pelo demônio, porque Deus estava com ele.’’
Após consideráveis ponderações, adentremos
à atmosfera da Liturgia da Palavra deste domingo; o terceiro do Tempo Comum.
Conferir: (Ne VIII, 2-4 a 5-6.8-10; Sl XVIII; I Cor XII, 12-30; Lc I, 1-4; IV,
14-21). Com a Igreja cantamos: ‘’ A Lei do Senhor Deus é perfeita, conforto
para alma! O Testemunho do Senhor é fiel, sabedoria dos humildes; os preceitos
de Adonai são precisos, alegria ao coração. O mandamento de Adonai é brilhante,
para os olhos é uma luz.’’ (cf. Salmo Responsorial)
A Lei de Deus é a vida do homem, pois ela permanece nas veneráveis
Escrituras é imutável e perene desde quando fora confiada aos nossos ancestrais
na fé, ou seja, o Povo da Antiga Aliança conforme lemos no Livro do
Deuteronômio e alhures: ‘’Ouve, ó Israel: Adonai nossos Deus é o único Adonai!
Portanto, amarás Adonai teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e
com toda a tua força.’’ (cf. Dt5) Nesta tão especial profissão de fé dos nossos
irmãos, os judeus; encontra-se a sinopse de todos os preceitos.
A Lei, consiste em ‘’shemá’’
(ouve) Israel! Escuta! Presta bem atenção! ‘’Eu sou o Senhor, teu Deus!’’ Não
houve antes de mim algum outro e não haverá! Eu sou o Deus que fez o êxodo dos
teus pais da casa da escravidão! Destarte, amar a Deus é, como diz são Paulo, ‘’
a plenitude da lei.’’
Na primeira leitura ouvimos de maneira solene a leitura da ‘’Torah’’ da
Lei de Moisés feita pelo escriba Esdras. É o nascimento da religião de Israel.
A Palavra de Deus que é a vida dos homens. No quadro que a Escritura nos
reserva hoje, deparamo-nos com uma Liturgia! Nesta, encontra-se uma assembleia
de crentes composta por homens e mulheres. Todos põem-se de prontidão em ouvir
a ‘’Lei do Senhor’’ pois esta é mais ‘’adocicada que o mel sai dos favos das
abelhas!’’. Afirma o autor sagrado: ‘’(...) todo o povo ficou de pé(...) e
respondeu, levantando as mãos: ‘’Amém! Amém! Depois inclinaram-se e prostraram-se
diante do Senhor, com o rosto em terra.’’ Ainda ressalta-se: ‘’Este é um dia
consagrado ao Senhor, vosso Deus!’’ Ide para vossas casas e comei carnes
gordas, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que nada prepararam, pois
este dia é santo para o nosso Senhor.’’
A experiência com a suma Caridade sempre
desembocará no amor ao próximo conforme assinala Santa Agostinho: ‘’Vês a
Caridade? Vês a Trindade!’’ As palavras do sacerdote Esdras ‘’reparti com
aqueles que nada prepararam’’ revela que a Lei de deus é autenticada no amor fraterno
e puramente gratuito, desinteressado!
Na segunda leitura, da primeira carta de São Paulo aos Coríntios, o
apóstolo desenvolve, numa linguagem conotativa, a realidade da Igreja de Cristo e dos seus
batizados. Logo, utilizar-se-á das nomenclaturas ‘’corpo e membros’’. A palavra
do Apóstolo das gentes é mister para melhor compreendermos que fomos inseridos
no ‘’Cristo’’ pela água do Batismo e pelo espírito santo e formamos uma
comunidade de eleitos. ‘’Vós, todos juntos, sois membros desse corpo.’’ Devemos
honrar aquilo que fomos feito: cristãos! Na unidade somos cristãos, pois, onde
estivermos (o estado da nossa vocação diante da sociedade) há, aí, a presença
da Igreja o ‘’Corpo’’ expressa pelo membro-batizado, por conseguinte de Cristo,
como que a Cabeça que tudo governa e os demais irmãos na fé comum recebida.
No Evangelho, estamos ao
limiar da obra literária de São Lucas. Atentemo-nos a este, digamos assim, ‘’Prefácio’’:
‘’Muitas pessoas já tentaram escrever a história dos acontecimentos que se
realizaram entre nós, como nos foram transmitidos por aqueles que, desde o
princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra. Assim sendo, após
fazer um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio.(...)’’ Ao depararmo-nos
com este prolegômenos, é-nos, de antemão, colocada a verdade: Jesus de Nazaré,
o Filho de Deus, não é uma estória, uma crônica, um conto fabuloso com finais
mirabolantes, não é o principezinho que se transforma em sapo e tampouco a
carruagem que virá abóbora. Jesus de Nazaré é
o evento de salvação pelo mistério de sua encarnação e da sua Páscoa.
Lucas usa um vocábulo que assegura a plena verdade: ‘’Transmitidos’’. Por quem?
Pelos ‘’que comeram e beberam com Jesus’’. A nossa fé é puramente uma
transmissão de descendência a descendência. De quem conviveu ouviu e conclamou.
Não temos uma fé nova e tampouco envelhecida, mas sempre presente e vivificante
com o testemunho dos primeiros nosso irmãos!
Vai Jesus a Nazaré, a cidade
onde se tinha criado e adentra a sinagoga em dia de sábado. Atentemo-nos: Nosso
Senhor não entra nesse edifício como os demais rabis e escribas. Entra para ‘’plenificar
a Lei e, através da leitura do profeta Isaías revelar-se. Eis! É Ele o Messias
prometido à casa de Davi! É o ‘’ungido pelo Espírito Santo’’ como Filho de Deus
que veio trazer a liberdade e a salvação para toda a humanidade. Jesus tão mais
que Esdras diz: ‘’O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou
com a unção’’. É o ministério apostólico de Cristo, a sua santa missão que,
como já sabemos, culminará na obra redentora do sagrado madeiro! Veio como ‘’luz
para as nações’’, para quem se achava perdido, ‘’uma luz resplandeceu’’ nas
trevas do homem, morto pelo pecado. ‘’Todos os que estavam na sinagoga tinham
os olhos fixos nele.’’ É isto mesmo! Chegou os últimos tempos porque o Pai ofereceu
o seu Filho como havia desde todo o sempre prometido!
Quanto a nós vivamos consoante
o seu projeto de amor, de modo que, um dia, participemos da comunhão dos
santos!
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