Caríssimos
irmãos e irmãs, ‘’graça e paz da parte de Deus, o Pai e do Senhor nosso Jesus
Cristo esteja convosco!’’
Robustecidos pela feliz boa notícia que celebramos:
‘’Hoje, na cidade de Davi, a Belém de Éfrata, nasceu-nos um Menino, um Filho
nos foi dado, o seu nome é Emanuel, o Deus-conosco’’ é Natal de Nosso Senhor
Jesus Cristo! E hoje, neste Domingo, na
Oitava do Natal, alegramo-nos reverenciando a Sagrada Família de Nazaré que
desde à última semana do Advento já começamos a pensar.
Parece uma quimera, em nossos tempos,
marcados profundamente pelos estigmas apregoados pelos representantes da
sociedade civil; afirmando veementemente a total banalização do sagrado, a abolição
dos valores intrínsecos aos pais, o consumo perdulário, o hedonismo, o
panteísmo, a desmoralização, a vidinha fácil, os tipos de famílias, a desgraça
do aborto, tido, segundo uma mentalidade satânica, como problema de saúde
pública, não obstante a tal cenário, celebrar a Festa da Sagrada Família.
Uma realidade é fato: a família é uma
instituição sagrada. Deus em seu arcano e libérrimo desejo quis concedê-la ao homem. Antes de nos determos em Maria e em
José, pensemos na primeira noção de Família que a Escritura nos expõe.
Permanece expressa no Livro do Gênesis. Eia pois: A Santíssima Trindade. No
absoluto mistério trinitário, o Pai, pelo Filho no Espírito e o Pai todo no
Filho, o Filho todo no Pai e o Espírito Santo que procede do amor do Pai com o
Filho, nesta ciranda mistérica, que é belíssima, vislumbramos a Família. Isto
mesmo! Coloquemos aqui a minha e a sua. Eis o desejo de Deus: ‘’Façamos o homem
a nossa imagem e semelhança.’’(Gn1, 26)
No desenvolvimento desta história de salvação, plasma, o Senhor, uma
mulher, visto que esta é exclamada pelo homem, como ‘’ ossos dos ossos e carne
da carne’’ ou seja, é humana. Ambos são designados à constituição da prole
‘’crescei-vos e multiplicai-vos’’, é como se Deus dissesse: dos mortais vocês serão
aqueles que perdurarão as gerações. Pronto! Família é a junção do homem com a
mulher cujo fim primordial é garantir a descendência. Nem mais e nem menos é
isto! Agora perguntemo-nos: Como tal quadro, ainda presente na primitiva
aliança, valida-se? Graças à união do
homem e da mulher elevados à dignidade do Santo Matrimônio. Sim. Por meio deste
sacramento, recebido pela liberalidade dos esposos, a família deve ser
constituída, pois esta é uma das finalidades do mesmo, uma vez que se encontra,
agregado ao sacramento da Ordem, destinado à missão.
Detenhamo-nos neste ínterim á bendita Família de Nazaré. Reza a Igreja,
em sua Liturgia, na Oração de Coleta: ‘’Ó Deus de bondade, que nos destes a
Sagrada Família como exemplo, concedei-nos imitar em nossos lares a suas
virtudes para que, unidos pelos laços do amor, possamos chegar um dia às
alegrias da vossa casa.’’ Vemos na família de Jesus o protótipo perfeito para
as nossas. Partamos do grande evento que é a encarnação do Verbo que celebramos
hoje. Deus que é ‘’Eu sou’’ sempiterno, quis para si uma família humana.
Adentra à história nossa nascido de Maria sempre virgem e quis para si um pai
também. Pensemos na infância de Jesus, os dias ocultos em Nazaré, nos fatos e
nas vicissitudes da existência como que num eloquente silêncio, Deus vai,
paulatinamente, santificando as nossas famílias. Foi assim em Nazaré e o será
por todo sempre. Ao centro das nossas há um lugar que, sem dúvida, deve ser
ocupado por Aquele que tudo rege, por Aquele, que desde sempre, pensava na
salvação da família. É-nos notório aos olhos o quanto a família é degradada
pelos ditames daqueles que querem, a todo custo, ora tornarem-se seus senhores;
ora destruírem como assassinos em série.
As leituras desta Sagrada
Liturgia, são, na verdade, instruções que as famílias cristãs devem pautar as
suas vidas. Vejamos: ‘’Deus honra o pai nos filhos e confirma, sobre eles, a
autoridade da mãe. Quem honra o seu pai, alcança o perdão dos pecados; evita
cometê-los e será ouvido na oração cotidiana. Quem respeita a sua mãe é como alguém
que ajunta tesouros.’’ (Eclo 3) Estas exortações são consideradas bênçãos. Ela
provém do alto, do Coração de Deus. É lamentável em nossos dias vermos o
dissabor existente entre as famílias: pais e mães em querelas, filhos
desentendidos. Sim esta é uma astúcia de Satanás, uma vez que é nela que as
vocações são nascidas, sobretudo o sacerdócio e o matrimônio.
Na segunda leitura, extraída da carta de
São Paulo aos Colossenses há um período que é o miolo para bem vivermos no seio
familiar. Escutai só o que diz o apóstolo: ‘’Amai-vos uns aos outros, pois o
amor é o vínculo da perfeição.’’ A família não é perfeita, outrossim não
existe a melhor família, mas o que a
caracteriza verdadeiramente é a prática do amor, porque é justamente ele que
santificará os membros que a compõe.
Atentemo-nos! Não o amorzinho fácil, todavia àquele, que, com alegoria,
diz São Paulo: ‘’Maridos amai as vossas esposas como Cristo amou a sua Igreja e
por ela se entregou. (Ef 5) Qual é então? É o da cruz! A família é vocacionada
dia a dia a ofertar-se com Cristo e este crucificado! É o vetor para a
santificação, por isso continua o Apóstolo na segunda leitura da missa de hoje:
‘’Maridos, amai as vossas esposas e não sejais grosseiros com elas. Filhos,
obedecei em tudo aos vossos pais, pois isso é bom e correto no Senhor. Pais, não intimideis os vossos filhos, para que eles
não desanimem.’’ A família, que vive imersa nas mais variadas relações sociais,
é o lugar da presença de Deus, logo o testemunho é primordial ; ‘’Vós sois a
luz do mundo! Vós sois o sal da terra!’’
No Evangelho, extraído de Lucas 2, 41-52, é o texto único, presente na Escritura que
fala de Jesus aos doze anos. Instruído
pela Lei de Moisés vai para o Templo. Atentemo-nos aos pormenores do texto
sagrado: é a Páscoa, a festa dos judeus, ‘’passados os dias da Páscoa, começaram
a viagem de volta, mas o menino ficou em Jerusalém, sem que seus pais o
notassem.’’ Vejamos: o Menino Jesus, o quase adolescente Jesus de Nazaré, de
Maria e de Joset, não se perde propositalmente dos pai ou se perdeu na
multidão. Não! Jesus já anuncia a sua vida pública. Quem o é. Testifiquemos com
a sua resposta: ‘’Por que me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de
meu Pai?’’
Naquele Menino-Deus cumpre-se as Sagradas
Escrituras. Eis o palco dos acontecimentos: Jerusalém. Aí fará a sua Páscoa,
com a paixão, morte e ressurreição. ‘’Três dias’’- sinal da Ressurreição. Quem
é agora o Templo, senão o Filho de Deus, que possui a ‘’plenitude da Divindade’’
Ele que é ‘’a imagem do Deus Invisível’’! Ao término do Evangelho, notamos, a
particular atenção do evangelista. Aquele que é Deus é homem em sua plenitude: ‘’Jesus
desceu então com seus pais para Nazaré, e era-lhes obediente... e Jesus crescia
em sabedoria estatura e graça, diante de
Deus e diante dos homens.’’
Nesta festa litúrgica da Sagrada
Família, bendizemos a Deus por nossas famílias, bendizemos também porque com
ela, pelo Batismo, participamos da família de Cristo que a sua Esposa, a
Igreja, e, conforme pediu o sacerdote na Oração inicial de hoje, ‘’unidos pelos
laços do amor, possamos chegar um dia às alegrias da vossa casa.’’ Ao Menino Deus, em comunhão com o Pai o louvor
e a glória pelo séculos dos séculos!