terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A fé guardada, transmitida e celebrada na Liturgia.





Da Constituição ''Sacrossanctum Concillium'' sobre a Sagrada Liturgia, do Concílio Vaticano II (Séc.XX)

''A Igreja, seguindo a tradição dos apóstolos cuja origem remonta ao próprio dia da ressurreição, celebra o mistério pascal cada oito dias, que por isto chama dia do Senhor ou domingo. Neste dia devem os fiéis reunir-se para escutar a palavra de Deus e participar da eucaristia, a fim de se lembrarem da paixão, ressurreição e glória do Senhor Jesus (...). Assim é o domingo a festa primordial e, como tal, seja apresentado e inculcado à piedade dos fiéis para que se lhes torne dia de alegria e de descanso dos trabalhos. Todas as outras celebrações, a não ser que sejam realmente de máxima importância, não passem à sua frente porque é o fundamento e o cerne de todo o ano litúrgico.''



Uma particular diligência para duas grandes expressões desta Sagrada Constituição:
* A primeira: ''A Igreja seguindo a tradição dos apóstolos cuja origem remonta ao próprio dia do Senhor.'' 



   Vejamos como a fé que recebemos é importante. Ela remonta dos doze colunas. Isto é a Tradição Apostólica. Cremos por uma ''transmissão'' de uma geração para outra geração. Nós, cristãos do século XXI, recebemos um legado de fé por meio do perene testemunho desde Pedro a João que foram ao túmulo, no dia terceiro, como Maria de Magdala, que, segundo o Evangelho diz: ''Eu vi o Senhor!'' Desde das primeiras comunidades cristãs que firmavam-se no alicerce da fé cristã e apostólica: ''O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!'' Com esta verdades de fé, vemos, o quanto é genuíno e ininterrupto aquilo que cremos e celebramos nos ritos da Sagrada Liturgia dominical.

* A segunda: ‘’ Neste dia devem os fiéis reunir-se para escutar a palavra de Deus e participar da eucaristia, a fim de se lembrarem da paixão, ressurreição e glória do Senhor Jesus.’’

  Esta é a assertiva pela qual nos reunimos todos os domingos. E não é uma reunião para pôr pautas, comentários. É uma reunião de uma ‘’’Assembleia de Eleitos’’ cujas vestes ‘’foram alvejadas no sangue do Cordeiro. É uma Eclésia que se reúne, para, conforme diz a Constituição, ‘’lembrar a paixão, ressurreição e glória do Senhor Jesus.’’ Lembrança para o crente judeu e para nós cristãos é sinônimo de atualização, memória, ‘’anamneses’’. Então, nós, os batizados, somente estes, reúnem-se em solene assembléia para celebrar a Eucaristia. Esta é a única razão pela qual participamos da Ceia Sacrifical do Senhor. E vejamos: isto se dá pela transmissão da reta e sã doutrina oriunda dos apóstolos, dos seus colaboradores.

    Encontra-se nas atas de São Justino, Bispo e Mártir, no século segundo, do início da crua perseguição aos seguidores do ‘’Caminho’’, o Cristianismo: ‘’ “Reunimo-nos todos no dia do Sol [o primeiro dia da semana era denominado de dia de Sol no Império Romano até o século IV], não só porque foi o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas e a matéria, criou o mundo, mas também porque neste mesmo dia Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos. Crucificaram-no na véspera do dia de Saturno; e no dia seguinte a este, ou seja, no dia do Sol, aparecendo aos seus apóstolos e discípulos, ensinou-lhes tudo o que também nós vos propusemos como digno de consideração” (Justino I – Apologia Cap. 66-67 : PG 6,427 - 431). 
  
  Esta é a fé da Igreja e nós ora pela Batismo ; ora pela transmissão participamos. A fé de sempre, guardada pelo precioso depósito confiado a Pedro, aos seus sucessores e aos Colégio Universal dos Bispos.

sábado, 26 de janeiro de 2013

IIIºDomingo Comum- Ano B


           Caros irmãos na fé trinitária: graça e paz da parte de Deus, nosso Pai e de Jesus Cristo nosso Senhor. Eis que no peregrinar do Ano Eclesiástico fazemos solenemente a atualização dos mistérios da nossa salvação executados pelo Cristo, o Filho do Deus vivo como pudemos vislumbrar, recentemente, o admirável intercâmbio dos céus com a terra, quando, por libérrima e arcana vontade da Trindade Santíssima o ‘’Logos’’ fez-se carne nas entranhas fecundíssimas de Maria Virgem, a Mãe de Deus, e ‘’armou a Tenda em nosso meio’’; ou seja, é um de nós, da raça de Adão, exceto no pecado.
        
   Magnânima verdade, celebramos, com a Santa Igreja ao transcorrer do curtíssimo, mas mui significativo Tempo do Natal. Posteriormente a este, iniciamos o Tempo Ordinário, conhecido como o ‘’Tempo Comum’’. Qual é o significado? O que representa para a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo? São demasiadas amplas as respostas. Elas estão na literatura da Sagrada Escritura, os Santos Evangelhos, os sinópticos e o solene Evangelho segundo São João. Na oração ‘’super-oblata’’, da Sagrada Liturgia do 2º do Tempo Comum, está, ainda que compendiada, a resposta. Diz o sacerdote: ‘’Concedei-nos, ó Deus, a graça de participar constantemente da Eucaristia, pois, todas às vezes que celebramos este mistério, torna-se presente a nossa redenção.’’
      
  É isto mesmo! Celebrar a Sagrada Páscoa do Senhor até que venha o seu derradeiro advento, na glória dos céus. Ademais, como já referimos, no Tempo Ordinário é posta a tônica de toda a ação messiânica de Jesus; os prodígios e obras portentosas executadas na força do Espírito Santo durante os três anos quando do seu ministério de Máximo Pontífice entre os homens e o Pai, logo, a Igreja, sabiamente dividiu em três anos (A) São Mateus, (B) São Marcos e (C) São Lucas cujo Ano Litúrgico celebramos desde o primeiro do Tempo do Advento.
  
     À partir da óptica teológica deste evangelista e apóstolo, escutaremos, com profundidade ‘’quem foi Jesus de Nazaré,’’ já observada noutro livro de sua autoria, os Atos dos Apóstolos: ‘Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda parte  fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio, porque Deus estava com ele.’’
    
   Após consideráveis ponderações, adentremos à atmosfera da Liturgia da Palavra deste domingo; o terceiro do Tempo Comum. Conferir: (Ne VIII, 2-4 a 5-6.8-10; Sl XVIII; I Cor XII, 12-30; Lc I, 1-4; IV, 14-21). Com a Igreja cantamos: ‘’ A Lei do Senhor Deus é perfeita, conforto para alma! O Testemunho do Senhor é fiel, sabedoria dos humildes; os preceitos de Adonai são precisos, alegria ao coração. O mandamento de Adonai é brilhante, para os olhos é uma luz.’’ (cf. Salmo Responsorial)
   
    A Lei de Deus é a vida do homem, pois ela permanece nas veneráveis Escrituras é imutável e perene desde quando fora confiada aos nossos ancestrais na fé, ou seja, o Povo da Antiga Aliança conforme lemos no Livro do Deuteronômio e alhures: ‘’Ouve, ó Israel: Adonai nossos Deus é o único Adonai! Portanto, amarás Adonai teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força.’’ (cf. Dt5) Nesta tão especial profissão de fé dos nossos irmãos, os judeus; encontra-se a sinopse de todos os preceitos.

   A Lei, consiste em ‘’shemá’’ (ouve) Israel! Escuta! Presta bem atenção! ‘’Eu sou o Senhor, teu Deus!’’ Não houve antes de mim algum outro e não haverá! Eu sou o Deus que fez o êxodo dos teus pais da casa da escravidão! Destarte, amar a Deus é, como diz são Paulo, ‘’ a plenitude da lei.’’
   
   Na primeira leitura ouvimos de maneira solene a leitura da ‘’Torah’’ da Lei de Moisés feita pelo escriba Esdras. É o nascimento da religião de Israel. A Palavra de Deus que é a vida dos homens. No quadro que a Escritura nos reserva hoje, deparamo-nos com uma Liturgia! Nesta, encontra-se uma assembleia de crentes composta por homens e mulheres. Todos põem-se de prontidão em ouvir a ‘’Lei do Senhor’’ pois esta é mais ‘’adocicada que o mel sai dos favos das abelhas!’’. Afirma o autor sagrado: ‘’(...) todo o povo ficou de pé(...) e respondeu, levantando as mãos: ‘’Amém! Amém! Depois inclinaram-se e prostraram-se diante do Senhor, com o rosto em terra.’’ Ainda ressalta-se: ‘’Este é um dia consagrado ao Senhor, vosso Deus!’’ Ide para vossas casas e comei carnes gordas, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que nada prepararam, pois este dia é santo para o nosso Senhor.’’
     
      A experiência com a suma Caridade sempre desembocará no amor ao próximo conforme assinala Santa Agostinho: ‘’Vês a Caridade? Vês a Trindade!’’ As palavras do sacerdote Esdras ‘’reparti com aqueles que nada prepararam’’ revela que a Lei de deus é autenticada no amor fraterno e puramente gratuito, desinteressado!
  

    Na segunda leitura, da primeira carta de São Paulo aos Coríntios, o apóstolo desenvolve, numa linguagem conotativa, a  realidade da Igreja de Cristo e dos seus batizados. Logo, utilizar-se-á das nomenclaturas ‘’corpo e membros’’. A palavra do Apóstolo das gentes é mister para melhor compreendermos que fomos inseridos no ‘’Cristo’’ pela água do Batismo e pelo espírito santo e formamos uma comunidade de eleitos. ‘’Vós, todos juntos, sois membros desse corpo.’’ Devemos honrar aquilo que fomos feito: cristãos! Na unidade somos cristãos, pois, onde estivermos (o estado da nossa vocação diante da sociedade) há, aí, a presença da Igreja o ‘’Corpo’’ expressa pelo membro-batizado, por conseguinte de Cristo, como que a Cabeça que tudo governa e os demais irmãos na fé comum recebida.

   No Evangelho, estamos ao limiar da obra literária de São Lucas. Atentemo-nos a este, digamos assim, ‘’Prefácio’’: ‘’Muitas pessoas já tentaram escrever a história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, como nos foram transmitidos por aqueles que, desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra. Assim sendo, após fazer um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio.(...)’’ Ao depararmo-nos com este prolegômenos, é-nos, de antemão, colocada a verdade: Jesus de Nazaré, o Filho de Deus, não é uma estória, uma crônica, um conto fabuloso com finais mirabolantes, não é o principezinho que se transforma em sapo e tampouco a carruagem que virá abóbora. Jesus de Nazaré é  o evento de salvação pelo mistério de sua encarnação e da sua Páscoa. Lucas usa um vocábulo que assegura a plena verdade: ‘’Transmitidos’’. Por quem? Pelos ‘’que comeram e beberam com Jesus’’. A nossa fé é puramente uma transmissão de descendência a descendência. De quem conviveu ouviu e conclamou. Não temos uma fé nova e tampouco envelhecida, mas sempre presente e vivificante com o testemunho dos primeiros nosso irmãos!
  

   Vai Jesus a Nazaré, a cidade onde se tinha criado e adentra a sinagoga em dia de sábado. Atentemo-nos: Nosso Senhor não entra nesse edifício como os demais rabis e escribas. Entra para ‘’plenificar a Lei e, através da leitura do profeta Isaías revelar-se. Eis! É Ele o Messias prometido à casa de Davi! É o ‘’ungido pelo Espírito Santo’’ como Filho de Deus que veio trazer a liberdade e a salvação para toda a humanidade. Jesus tão mais que Esdras diz: ‘’O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção’’. É o ministério apostólico de Cristo, a sua santa missão que, como já sabemos, culminará na obra redentora do sagrado madeiro! Veio como ‘’luz para as nações’’, para quem se achava perdido, ‘’uma luz resplandeceu’’ nas trevas do homem, morto pelo pecado. ‘’Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele.’’ É isto mesmo!  Chegou os últimos tempos porque o Pai ofereceu o seu Filho como havia desde todo o sempre prometido!
  Quanto a nós vivamos consoante o seu projeto de amor, de modo que, um dia, participemos da comunhão dos santos!



  
    

sábado, 12 de janeiro de 2013

**FESTA DO BATISMO DO SENHOR**- ÚLTIMO DOMINGO DO NATAL E PRIMEIRO DOMINGO DO TEMPO ORDINÁRIO




         ‘’Batizado o Senhor, os céus se abriram, e o Espírito Santo pairou sobre ele sob a forma de pomba. E a voz do Pai se fez ouvir: Este é p meu Filho muito amado, nele está todo o meu amor. ’’ (cf. Antífona da Entrada, MISSAL ROMANO) Irmãos caríssimos, são com tais palavras que o sacerdote inicia a celebração litúrgica deste domingo; tido como o último do Tempo do Natal e, neste tempo litúrgico, a última das epifanias do nosso Divino Salvador. Desde o dia do Natal é-nos dada a graça de contemplar a manifestação do Amor de Deus em o seu Unigênito. Vemos com precisão, tamanha verdade, às palavras da segunda leitura, extraída da Epístola de São Paulo a Tito, que a Igreja proclamou na Missa da Noite: Manifestou-se a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor pelos homens: Ele salvou-nos (...) por sua misericórdia, quando renascemos e fomos renovados no batismo pelo espírito Santo, que ele derramou abundantemente sobre nós por meio de nosso Salvador Jesus Cristo. 
     
      A hodierna festa litúrgica é uma referência ao limiar do ministério messiânico de Jesus de Nazaré. Este Evento pode ser muito bem notável nos Evangelhos sinóticos; o que, no quarto Evangelho, segundo São João é mostrado de maneira solene quando das Bodas nupcial em Caná da Galileia. Perguntemo-nos: Qual é o mistério do Batismo do Senhor? Por que acorre Ele, ‘’o Justo, o Santíssimo, o Inocente, o Imaculado, o Filho de Deus, a quem, neste Tempo do Natal, pudemos com a Igreja, expressar a bimilenar fé, afirmando Ele ‘’ser consubstancial ao Pai’’, e pede o batismo que João Batista ministrava? Por quê quis, Nosso Senhor, ser batizado, ‘’que viveu em tudo a nossa humanidade, exceto o pecado?’’ 

    É um mistério grandíssimo! Sublime! Tenhamos a nossa atenção devotada às palavras da Oração do Dia desta Sagrada Liturgia: ‘’ Deus eterno e todo-poderoso sendo o Cristo batizado no Jordão, e pairando sobre ele o Espírito Santo, o declarastes solenemente vosso Filho, concedei aos vossos filhos adotivos, renascidos da água e do Espírito Santo, perseverar constantemente em vosso amor.’’ Nesta solene oração, encontramos o miolo fundamental desta Santa e Divina Liturgia. Cristo adentra às águas do Jordão porque, de fato, é Ele quem alvejará a humanidade decaída pelo pecado original. Sim! SIM! Não é água do Jordão que lavara o Cristo; como muitos que se aproximavam de João, o batizador e que segundo as veneráveis escrituras ‘’confessavam os seus pecados e eram batizados por João no Jordão.’’ Em Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, aquele outrora rito de ablução, ganha um pleno e real significado, pois como bem diz São Paulo que ‘’Cristo é Aquele que possui a plenitude universal’’.

    Neste dia, Cristo banhado, lavado nas águas já santificadas do Jordão, nasce o Sacramento do Batismo. O ritual de purificação ganha a dignidade de sacramento. É sabido disto nas palavras do Evangelho de São Marcos: ‘’Naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia, e foi batizado por João no rio Jordão. ‘E logo, ao sair da água, viu o céu se abrindo, e o Espírito, como pomba, descer sobre ele’.’’ Como ganha tal dignidade? Na misteriosa voz que se ouve e outrossim o elemento da pomba. Eis: ‘Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer.’’ Que hora santíssima! Pondo-se o nosso Salvador, na fileira daqueles penitentes, assinala que ‘’veio salvar o que estava perdido’’. Esta é a causa da sua encarnação no seio de Maria Virgem, ademais quando é mergulhado na água. Cumpre-se, digamos assim, o que dissera o Profeta Isaías: ‘Meu servo, o justo, fara justos inúmeros homens.’’ Nosso Senhor assumindo a nossa condição humana sepulta com a sua santíssima humanidade o julgo do pecado original, por isso replica quando João Batista lhe indaga: ‘’Eu preciso ser batizado por ti e tu vens a mim.’’ Diz-lhe: ‘’Por enquanto deixa como está, porque nós devemos cumprir toda a justiça.’’ Admoesta-nos o Papa Bento XVI analisando preciosíssima resposta quão mistérica: ‘’Justiça é, neste mundo, no qual Jesus está, a resposta do homem à Tora, aceitar toda vontade de Deus, levar o ‘jugo do reino de Deus’, (...) expressão para o ilimitado sim à vontade de Deus, como acolhimento obediente do seu jugo.’’ (cf. Jesus de Nazaré, do Batismo no Jordão à Transfiguração; p. 33)

    Pronto! Notamos que o Batismo de Jesus é um prelúdio do que acontecerá quando a sua ‘’hora’’ chegar. De fato, é na árvore da obediência, na cruz, que acontece o Batismo de Cristo é lavado ele como seu sangue santíssimo para o homem encontrar a redenção. Parafraseando o Apóstolo, é em Cristo morto e ressuscitado que fomos batizados. Caros e estimados irmãos, só a partir desta verdade, que é o Mistério Pascal, podemos entender os gestos acontecidos lá no Jordão. Quando Jesus é mergulhado é sinal da sua morte, da sua sepultura que garantir-nos-á a imortalidade. E o que pensar da voz e da pomba?
Ei-los: naquela voz testifica-se que Aquele homem é o Ungido do Senhor, o servo, que a primeira leitura da missa hoje nos apresenta. A pomba é sinal do Espírito Santo que confirmará todo o agir messiânico do Filho de Deus. Aquela é lembrada e vista, a primeira vez, no dilúvio, simbolizando o término e o recomeço duma nova criação, a partir daqueles que foram salvos e encontravam-se na arca. Qual é esta nova criação? Quem é esta arca? Eis pois: o Batismo e a Igreja. A humanidade é afeita pelo Mistério Pascal do Divino Pelicano, cuja perpetuação e sinal visível é a água do Batismo jorrada uma única vez do coração do Cordeiro de Deus imolado no alto do Gólgota.

       Os Sermões de São Proclo de Constantinopla nos ensina: ‘’Prestai atenção, contemplai o novo e admirável dilúvio, maior e mais poderoso que o do tempo de Noé. No primeiro dilúvio, a água fez perecer o gênero humano, agora, porém, a água do batismo, pelo poder daquele que foi batizado por João, chama os mortos para a vida. No primeiro dilúvio, uma pomba, trazendo no bico um ramo de oliveira, anunciava o odor da suavidade de Cristo; agora, o espírito Santo, vindo em forma de pomba, mostra-nos o Senhor cheio de misericórdia.’’ Esta tão santa manifestação do Filho de Deus deve ser, de maneira tal, absorvida por nós, porque nos tornamos cristãos. No dia do nosso Batismo a pia batismal, o grande útero da Senhora e mãe católica, a Igreja, nos gerou para a vida do alto, por esta razão que misteriosamente dissera Jesus a Nicodemos: ‘’Em verdade, em verdade vos digo: se não nasceres da água e do Espírito Santo não poderá entrar no Reino do Céus.’’ Foi-nos ofertado o germe da vida eterna pela virtude da fé, da esperança e da caridade, recebida naquela dia. Tornamo-nos outros Cristos, logo são entendidas as palavras do sermão das Bem-aventuranças: ‘’Vós sois o sal da terra! Vós sois a luz do mundo!’’

     Oxalá esta inserção nossa à família de Deus que é a Igreja nos faça merecedores do prêmio eterno, do qual, o penhor é a Páscoa de Nosso senhor Jesus Cristo e a graça batismal que a Igreja tal como uma mãe zelosa nos mereceu. Que o Deus-Messias, cuja Epifania no batismo, hoje celebramos, faça-nos na força do santo Espírito suas fieis testemunhas, destarte estaremos espalhando o ‘’Seu bom odor.’’ A Ele, o ‘’primogênito dentre os mortos’’, a glória e a eternidade pelos séculos dos séculos. Amém!

sábado, 5 de janeiro de 2013

**Solenidade da Epifania do Senhor!**

                               

           Caros irmãos, ainda imersos às alegrias do singular evento da Encarnação do Verbo sempiterno, Nosso Senhor Jesus Cristo, voltamo-nos para o presépio e eis, que hoje, encontramos a Sagrada Família e, dentre muitos, os sábios magos oriundos do Oriente; e da boca da Igreja escutamos, como é bem expressa a Antífona da Entrada da Missa de hoje: ‘‘Eis que veio o Senhor dos senhores, em suas mãos, o poder e a realeza.’’  Celebramos hoje a Solenidade da Epifania do Senhor. Do grego, ‘’Θεοφάνεια’’, significa etimologicamente, ‘’manifestação, aparição, revelação.’’ Sabido disto, é, pois, a Manifestação do Senhor a todo o mundo. Aquele lá das alturas, toma a nossa forma humana, a nossa visibilidade, ou seja, é próximo de nós, o Divino companheiro, Emanuel, Deus conosco!
      Este arcano desígnio de salvação é expresso em todos os textos que a Liturgia da Palavra nos apresenta. Vejamos as palavras de Isaías profeta: ‘’Levanta-te, acende as luzes Jerusalém, porque chegou a tua luz apareceu sobre ti a glória do Senhor. Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti.’’ À priori é a imagem que encoraja o Povo de Israel à volta da peleja e severa servidão na Babilônia. Longe do Templo, imersos na idolatria, destarte abandonando-o o Deus Bendito dos seus pais.’’  Continua o Profeta: ‘’ Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora... Ao vê-los, ficarás radiante, com o coração vibrando e batendo forte, pois com eles virão as riquezas de além-mar e mostrarão o poderio de suas nações; será uma inundação de camelos e dromedários de Madiã e Efa a te cobrir; virão todos os de Sabá trazendo ouro e incenso e proclamando a glória do Senhor.’’ Esta exortação fora dirigida ao povo da primitiva aliança, pois voltavam para a Cidade de Sião, a Jerusalém santa, para adorar o Deus Santo que bem fez todas as coisas!
   Nestes tempos, que são os últimos, tomamos o Antigo Testamento, e nele, observamos as adversas epifanias feitas pelo senhor na paulatina história da salvação. As alianças sancionadas, a aparição a Moisés na visão da sarça, faz-nos lembrar o ensinamento de Santo Agostinho, contido no Catecismo da Igreja Católica, nº 2055- ‘’ Novum in Vetere latet in Novo Vetus patet’’- o Novo Testamento está escondido no Antigo, ao passo que o Antigo é desvelado no Novo. Como somos cônscios, iluminados pela Palavra de Deus e pelo Magistério Apostólico, a plenitude da Revelação é o Verbo encarnado, esta é, por antonomásia a epifania de Deus entre povos, como canta hoje o Salmo setenta e um: ‘’As nações  de toda terra hão de adorar-vos, ó Senhor. Os reis de toda a terra hão de adorá-lo, e todas as nações hão de servi-lo.’’ Pois bem: Quem é Jerusalém? É  a Igreja, os batizados, que iluminados pelo fulgor da Luz, tornam-se reflexos seus para o mundo descrente, como disse o mesmíssimo profeta, NA Solene Noite de Natal: ‘’O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu. Porque nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho.’’
  A hodierna Solenidade revela-nos que somente Deus é o Senhor dos senhores. Esta verdade é-nos colocada pelo Evangelho quando da atitude dos magos: ‘’ Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram.’’ A adoração é uma  atitude de reconhecimento do senhorio de Cristo diante daquilo que somos. Outro dado importante é o que encerram-se em seus cofres: o ouro, o incenso e a mirra. Quais os sinais desta dádiva? São símbolos que anunciam a verdade do Infante-Deus. O ouro: Ele é Rei do Universo. O incenso: Ele é Deus; o soberano ‘’que supera todos os deuses, pois um nada são os deuses dos pagãos. Bem diz o salmista:’’ Têm olhos, mas não podem ver’, têm ouvidos mas não podem ouvir, têm nariz mas não podem cheirar, têm boca, mas não podem falar” e uma especial atenção à mirra. Esta é sinal da Paixão, do fel, do vinagre dado, da glória do martírio cruento, que aguarda o Divino Infante.
    À segunda leitura, da Carta de São Paulo aos Efésios, (cf. Ef 3, 2sg.), diz o Apóstolo:  ‘’Este mistério, Deus não o fez conhecer aos homens das gerações passadas, mas acaba de o revelar agora, pelo Espírito, aos seus apóstolos e profetas: os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho.’’  O referido mistério é a Revelação plena de Deus em o seu Unigênito, sim, Aquele mesmíssimo, que, como diz São João, ‘’estava na intimidade do Pai’’,  manifesta-se para salvar o homem da imundície do pecado, por isso mesmo diz São Paulo que ‘os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho.’
     Celebrar a Epifania do Senhor é reconhecer no Filho de Deus, a ‘imagem do Deus invisível’’, que, tendo se  manifestado a todos os povos para salvá-los, já levou, a nossa humanidade redimida, quando ascendeu ao mais alto dos céus! Vamos pois e o Adoremos, Aquele que é, foi e será!
    

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