quarta-feira, 9 de maio de 2012

Afinal, as novas tecnologias separam ou unem as pessoas?


A grande facilidade com que os usuários do Facebook podem agregar “amigos” a seu perfil, a simplicidade com que as pessoas podem conversar através dos diversos chats com outros “amigos” ou “seguidores”, muitas vezes espalhados pelo mundo inteiro, e outras realidades, pareceriam inclinar pelo “sim” à pergunta de se as novas tecnologias facilitam as relações humanas.
Entretanto, um olhar crítico sobre essas amizades cibernéticas, realizada por uma psicóloga, professora do Instituto Técnológico de Massachussets – MIT, nos indica o espaço examinador de todos estes intercâmbios.
No inteligente editorial publicado na edição digital do New York Times de 21 de abril, Sherry Turkle invoca sua experiência na matéria para opinar: “Nos últimos 15 anos, tenho estudado tecnologias de conexão móvel e conversei com centenas de pessoas de todas as idades e circunstâncias sobre as suas vidas “conectadas”. Eu aprendi que os pequenos dispositivos que carregamos são tão poderosos que podem mudar não só o que fazemos, mas também quem somos”, disse.
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O que que foi dito parece uma banalidade, pois, tudo o que o homem faz, de alguma maneira, o transforma. Entretanto, não é banal de maneira nenhuma a profundidade dessas mudanças, particularmente no que se refere ao relacionamento com nossos semelhantes.
“Nós nos acostumamos a uma nova forma de estar “a sós”.
Tecnologicamente habilitados, somos capazes de estar um com o outro, e também em outros lugares, conectados onde queremos estar. Queremos personalizar nossas vidas. Queremos entrar e sair de onde estamos porque a coisa que mais valorizamos é o controle sobre onde focamos nossa atenção.
Nós nos acostumamos com a ideia de estar em uma tribo de um, fiel ao nosso próprio partido”: Uma dissertação muito interessante.
A tecnologia nos permite então, com maior ou menor facilidade, pensar e dedicar preferentemente nossos sentidos à aquilo que nos interessa ou nos agrada.
De fato, não cremos ser os únicos que experimentaram a tentação (e talvez caído nela) de perguntarmo-nos e olhar o que nos chegou no e-mail enquanto estamos em uma reunião de trabalho, social ou familiar, ou até inclusive enquanto escutamos algum sermão dominical não muito ameno.
Mas isto que os antigos poderiam qualificar como falta de educação -não dedicar os 5 sentidos ao interlocutor, ou ao expositor- é qualificado por muito de nossos jovens nativos digitais como uma “skill” a ser conquistada. Assim constatou nossa psicóloga:
“Meus estudantes me falam sobre uma nova e importante habilidade: trata-se de manter contato visual com alguém enquanto escreve uma mensagem, é difícil, mas pode ser feito”, lhe dizem os alunos a Sherry.
Pessoalmente o autor destas linhas teve essa experiência em mais de um jantar ou encontro, e posso dizer com toda a certeza que meu interlocutor ainda não havia adquirido a destreza suficiente para que eu não me sentisse desprezado. Mas enfim, devem ser minhas características de não nativo digital, mas de migrante digital, que ainda me encarceram nesses sentimentos.
Uma das mais finas, e interessantes observações que faz a professora do MIT é a da qualidade da “doação pessoal” e de outras características específicas que se patenteiam nas conversas digitais. Vejamos:
“No silêncio da conexão, as pessoas são consoladas por estar em contato com um monte de gente – cuidadosamente mantidos à distância. Nós não podemos ter o suficiente do outro se temos a capacidade de usar a tecnologia para manter o outro a distâncias que podemos controlar: não muito perto, não muito longe, apenas na distância correta (…) Em mensagens de texto, e-mails e postagens apresentamos o que queremos ser. Isto significa que podemos editar. E se quisermos, podemos excluir. Ou retocar: a voz, a carne, o rosto, o corpo. Não muito, não pouco”.
Esse contato não pleno que ocorre no ciberespaço, é introduzido de maneira sugestica por Turkle com a expressão o ‘silêncio da conexão’. Quer dizer, poderemos ‘falar’ muito por chat ou comunicar-nos até a saciedade por e-mail, mas sempre haverão elementos que não se transmitem e sobre os quais se faz silêncio. Não se transmitem porque os retocamos ou silenciamos, ou simplesmente porque as próprias limitações do canal o impedem. Mas além disso, um uso abusivo ou exclusivo deste tipo de comunicação pode atrofiar as capacidades que temos de dar-nos por completo aos demais na conversa ou no contato pessoal, e esse risco o correm particularmente os jovens.
“Um menino de 16 anos, que se baseia em mensagens de texto para quase tudo, disse, quase melancólico, ‘Algum dia, algum dia, mas certamente não agora, eu gostaria de aprender a ter uma conversa’”, relata Turkle.
“No trabalho de hoje, os jovens que cresceram temendo conversar aparecem usando fones de ouvido. Caminhando através de uma biblioteca da faculdade ou de um campus de alta tecnologia se vê a mesma coisa: estamos juntos, mas cada um de nós está em sua própria bolha, furiosamente conectado a teclados e telas sensíveis a toque minúsculos”, continua.
“Jovens que crescem temendo conversar”. Outra espressão muito bem encontrada, Encerrados em seus tanques cibernéticos, não são poucos os que terminam não conhecendo bem seus vizinhos mais próximos, seja no escritório ou na escola, pois uma mistura de temor e “falta de tempo” os inibe a abrir sua alma ou a peregrinar em almas alheias. Isso em moral cristã tem um nome talvez um pouco forte para aplicar a esta realidade mas que consideramos que não deixa de ser adequado e se chama egoísmo: sou eu, com meus desejos, com minha música e meus vídeos, com os amigos que eu quero frequentar, e na medida e intensidade que eu queira, mostrando só o que eu quero e quando quero.
Entretanto, e foi bem destacado na metafísica cristã recente, o ser humano é um ser ‘donal’, não só um ser ‘em relação’, mas uma criatura que está chamada por natureza a “dar-se”. O risco do egoísmo cibernético é que tem conexos com os deleitáveis e venenosos prazeres do egoísmo. Mas o egoísmo, qualquer que seja, inclusive se se disfarça de iphones, ipads, ou smartphones, cedo ou tarde, termina enfastiando, termina tornando amarga a existência.
E a solução segue sendo hoje como sempre, o dar-se, o entregar-se, o abrir-se, a imitação dAquele que há 2.000 anos na Palestina disse que não há quem demonstre mais amor que o que dá a vida por seus amigos.
Por Saúl Castiblanco
Traduzido por:
Emílio Portugal Coutinho

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