terça-feira, 18 de outubro de 2011

A BELEZA QUE SALVA - voz dos Papas - PARTE I


Neste sentido, a voz do Magistério se tem feito ouvir reiteradamente, pois, conforme explicava o Papa Paulo VI, “o mundo em que vivemos tem necessidade da beleza para não cair no desespero. A beleza, como a verdade, traz o gozo ao coração dos homens e um fruto precioso que resiste ao tempo, une as gerações e lhes faz comungar na admiração”.
João Paulo II propunha a via da beleza a fim de que a Através do maravilhamento, levando-a à experiência do Absoluto, pois “diante da sacralidade da vida e do ser humano, diante das maravilhas do universo, o assombro é a única atitude condigna. [...] Os homens de hoje e de amanhã têm necessidade deste entusiasmo, para enfrentar e vencer os desafios cruciais que se prefiguram no horizonte. Graças a ele, a humanidade poderá, depois de cada extravio, levantar-se de novo e retomar o seu caminho. Precisamente neste sentido foi dito, com profunda intuição, que ‘a beleza salvará o mundo. A beleza é chave do mistério e apelo ao transcendente”.
De modo semelhante, Bento XVI tem recordado, em diversos momentos, a importância desta via, como, por exemplo, aos artistas sacros, cuja “missão consiste precisamente em suscitar a admiração e o desejo do belo, formar a sensibilidade das pessoas e alimentar a paixão por tudo aquilo que é expressão autêntica do gênio humano e reflexo da Beleza divina”.
A apologia da beleza transcendental na obra teológica de Von Balthasar
Não são somente os últimos sucessores de São Pedro que têm relembrado o papel do pulchrum na evangelização ou na teologia. Neste sentido, merece destaque Hans Urs Von Balthasar (1905-1988), cujo mérito – entre outros – está em ter recuperado a categoria do belo e sua interpretação na mensagem teológica cristã do século XX.
Apesar de Balthasar ser teólogo, sua obra se caracteriza por um especial enfoque filosófico, pois desta forma visava responder à altura algumas objeções à beleza transcendental, presentes em certas correntes de pensamento.
Salvaguardando o primado da iniciativa divina sobre a humana, Balthasar opõe-se ao antropologismo filosófico e teológico dominante na década de 60 e contesta o método transcendental de Karl Rahner. Para o autor, não é o objeto (a Revelação) que tem de adequar-se à modalidade de recepção do sujeito (o homem), mas o sujeito ao objeto.
Também, ao contrário da proposta subjetivista da moderna filosofia da consciência, a qual sustenta que o originário e constitutivo do espírito consiste na autonomia de uma consciência fechada em si mesma, Balhasar afirma a abertura ao ser através da contemplação das criaturas. Esta consideração conduz a uma relação de admiração e contingência. Deste enlevo, chega-se à relação com algo que supera os limites humanos, ou seja, num comércio de dependência direcionada ao princípio causal de todas as criaturas, ao próprio Deus.
A via da beleza segundo Von Balthasar
Balthasar afronta a perplexidade de se desenvolver a teologia cristã através da beleza, argumentando que a visão do verum e do bonum são completadas mediante o aporte do pulchrum, pois a luz dos transcendentais só poderá brilhar se permanecer íntegra.

De fato, o teólogo suíço explica que todo homem, por amor ao absoluto, procura conhecer a verdade que o transcende, percorrendo vários caminhos, embora nem todos passíveis de chegar até Deus. A beleza seria uma destas vias, mas, lamentavelmente, “a categoria do belo ocupa na filosofia e na teologia contemporânea um papel insignificante”, pois na época moderna, a religião e a teologia afastaram-se da beleza, impuseram-lhe enérgicas fronteiras, degenerando em  anacronismo para a filosofia, a ciência e a teologia.

Por isso, insiste que o homem moderno, colocado diante do Verbo e de suas criaturas, tem de reaprender a ver aquilo que revela uma teofania, a partir da beleza transcendental. Nesta perspectiva, tanto a vida do Redentor como as maravilhas da criação aparecem em seu caráter, embora abismático, como algo sublime e majestoso, submerso no gratuito mistério do amor de Deus.

Alguns teólogos passaram a recriminar no autor seu interesse aparentemente exclusivista pela beleza, o que de modo evidente não corresponde à intenção de Balthasar. O teólogo suíço, por sua vez, convida a não se recusar aprioristicamente esta tentativa, qualificando-a como mero esteticismo, mas, isto sim, a aceitar o itinerário proposto, analisando com sensatez e humildade o caminho que se visa percorrer. Esta posição exclui uma transcendência exclusiva da beleza, ainda que considerada em relação com a Revelação cristã.

Por outro lado, o Cardeal Joseph Ratzinger observava que “foi a partir desta concepção que Hans Urs von Balthasar arquitetou o seu opus magnum de estética teológica,da qual muitos aspectos têm dado entrada no domínio da discussão teológica, embora o seu ponto de partida, que constitui o verdadeiro elemento essencial do todo, quase nem sequer tenha sido recebido. Por certo, em jogo não está, ou principalmente, um problema da teologia; está também um problema da pastoral, que deveria voltar a proporcionar ao homem o encontro com a beleza da fé.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...