sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Sem Cristo Ressuscitado, sobra ritualismo, devocionismo e o moralismo estéril.

A atualidade do cristianismo


Pedro Ravazzano

Pensar o cristianismo como acontecimento e Cristo como uma presença concreta na existência, como colocara Beato João Paulo II, Beata Teresa de Calcutá, Mons. Luigi Giussani e, inclusive, o atual Papa Bento XVI, entre tantos outros homens da Igreja, pode ser visto para alguns católicos como uma nova leitura do modernismo ou, simplesmente, como concepções progressistas da fé.
Entretanto, essa visão, de fato reavivada pelo Concílio Vaticano II, não se contrapõe aos ritos, devoções, piedade, mas concede a tais manifestações da fé o princípio basilar, isto é, o alicerce sobre o qual se torna possível falar do cristianismo enquanto evento que funda o homem.

O acontecimento tem a força de gerar uma mudança radical de perspectiva, como nos mostra o exemplo de São Paulo; de perseguidor tornou-se Apóstolo dos gentios e se viu modificado a ponto de dizer que o que outrora era o ideal máximo transformou-se em “esterco”. Destarte, a transformação não vem por meio de um pensamento, mas sim pelo impacto do acontecimento, ou seja, da “pela presença irresistível do Ressuscitado, da qual nunca poderá sucessivamente duvidar, dado que foi muito forte a evidência do acontecimento, deste encontro.” (Bento XVI) Por isso este acontecimento, como nos diz o Papa, é o encontro forte com Cristo, o Ressuscitado que “mostra-se como uma luz maravilhosa e fala a Saulo, transforma o seu pensamento e a sua própria vida”.

O ritualismo, devocionismo, moralismo, são degenerações do cristianismo em sua correta compreensão. Quando a pessoa de Cristo é subtraída em Sua influência na existência dos fiéis, aquilo que pode ser compreendido como manifestações do sagrado e signos do transcendente perde o caráter basilar. Obviamente a linha que separa a devoção do devocionismo, por exemplo, é muito tênue ainda mais por ser um aspecto estritamente subjetivo, ou seja, que se refere ao âmbito da consciência e da relação desta com Deus. Não obstante, a atualidade do cristianismo se faz não na leitura legalista e normativa do Mistério, mas sim no despertar para o sentido fundacional e existencial que a pessoa de Jesus Cristo tem junto ao homem nos mais amplos aspectos; cultura, sociedade, política etc.
“O cristianismo é a presença do Senhor aqui e agora, presença que nos sustenta no aqui e agora da vida de fé. Assim, a alternativa é clara: o cristianismo não é teoria, nem moralismo, nem ritualismo, mas um acontecimento, encontro com uma presença, com um Deus que entrou na história e nela entra continuamente.” Cardeal Joseph Ratzinger
Entretanto, é sabido da grande possibilidade disso ser interpretado como a polarização entre um Cristo rarefeito e difuso e a Igreja enquanto instituição responsável por zelar pelo Seu legado. Entretanto, a Igreja não está desassociada de Jesus enquanto presença, mas é sim a Sua atualização e atualidade no mundo hodierno, querer o contrário é reduzir a Esposa de Cristo a uma realidade meramente burocrática. Nesse sentido, corre-se o risco de “salpicar” a pessoa de Nosso Senhor no ritualismo, no moralismo e no clericalismo, ou seja, que parte do não reconhecimento do Seu caráter verdadeiro, da compreensão da dimensão do Mistério do Verbo divino encarnado, que rompe, muda e transforma a história, do qual brota a ordem do homem reconciliado com Deus, sabendo que “o acontecimento cristão é um encontro humano no qual Jesus Cristo se revela significativo para o coração da vida e desvela o eu.” (Mons. Luigi Giussani)

Apenas nessa dimensão e nessa compreensão não apenas intelectual, mas sim, e principalmente, experiencial, podemos falar da grandeza e profundidade do rito, da missão profética da Igreja, da simplicidade e sinceridade das devoções.
De fato, é conhecendo e reconhecendo a pessoa de Cristo que se faz possível a vivência intensa da fé cristã em sua plenitude. Sem essa noção desconstruímos o Seu legado e transformamos o evento cristão num gélido e frio instante da angústia do homem que busca Àquele que não encontra.

Esse seguimento radical de Jesus em todas as nossas decisões, como dizia o Cardeal Van Thuan, abre os olhos para a realidade, mas, antes de tudo, abre os olhos para a condição do próprio homem. Assim, na interioridade, como já colocava Santo Agostinho, o homem reconhece o seu fundamento ao se enxergar e, saindo de si mesmo, vai ao mundo para encontrá-Lo. Unicamente nessa dinâmica é possível, para o cristão, penetrar o mais íntimo da experiência em Cristo como existência desperta, com a compreensão da irrupção do Mistério e dizer, como o Doutor da Graça,“Será viva a minha vida toda repleta de Ti!”

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