“Ó Deus, que ungistes o Vosso Filho único
com o Espírito Santo
e O fizestes Cristo e Senhor,
concedei que, participando da Sua consagração,
sejamos no mundo testemunhas da redenção
que Ele nos trouxe”.
Estas
palavras que a Liturgia põe na boca da Mãe Igreja dizem respeito a
todos os batizados, pois que pelo Batismo e pela sagrada Crismação,
todos recebemos o Espírito do Senhor Jesus Cristo como vida e como força
para, em união com Ele, participarmos da Sua missão no meio do mundo.
Mas,
Senhor Arcebispo e caríssimos Sacerdotes, estas mesmas palavras, de um
modo particularíssimo, dizem respeito a nós, que recebemos o sacerdócio
ministerial de Cristo Jesus.
Efetivamente,
antes do início do sagrado Tríduo Pascal, conforme antiga tradição
litúrgica, a Mãe católica em toda terra reúne os presbíteros de cada
Igreja local, para que em comunhão com o seu Bispo celebrem a
Eucaristia, renovem as promessas sacerdotais, abençoem os óleos dos
catecúmenos e dos enfermos e consagre o Santo Crisma. É cheia de
significado esta Celebração! Ela nos quer recordar o mistério do
sacerdócio eterno do Cristo Jesus e do nosso sacerdócio ministerial.
Mais ainda: faz-nos mergulhar neste mistério!
Eis
o que clama esta Missa crismal, eis o seu sentido profundo: Aquele cujo
mistério pascal estamos para celebrar é o eterno Sacerdote da Nova
Aliança! Efetivamente, tudo quanto o Senhor Jesus fez e sofreu, e que
celebraremos nestes santíssimos dias, fê-lo de modo sacerdotal, isto é,
fê-lo como oferta amorosa ao Pai, como expiação de amor pelo mundo
inteiro. Foi Ele, queridos irmãos, quem se fez homem -de corpo de homem e
alma de homem-, para humanamente oferecer-Se ao Pai. Recordai Suas
palavras no momento mesmo de entrar neste mundo: “Tu não quiseste
sacrifício e oferenda. Tu, porém, formaste-Me um corpo. Holocausto e
sacrifícios pelo pecado não foram do Teu agrado. Por isso Eu digo:
Eis-Me aqui! Eu vim, ó Deus, para fazer Tua vontade!” (Hb 10,5-7).
Que mistério: toda a Sua existência humana de Filho, todo o Seu
ministério, com os cansaços, as pregações, os milagres, as amizades, as
ingratidões, as noites de oração, as tentações, a traição, a angústia no
Horto, a cruz e a morte, tudo isto o nosso Salvador vivenciou
sacerdotalmente, como vítima que Se oferece a Si próprio em sacrifício
amoroso ao Pai pelo mundo! Foi esta a consciência profunda do nosso
Jesus e é isto que as leituras desta Liturgia desejam nos fazer
contemplar. Aquele novo e verdadeiro Davi, cantato no Salmo de hoje,
Aquele mesmo que foi ungido como Cristo-Messias pelo Espírito do Senhor
Deus de Israel que repousou sobre Ele, para que trouxesse a Boa Nova aos
pobres, curasse as feridas da alma, pregasse a redenção aos cativos e a
liberdade para os presos, proclamasse o tempo da graça do Senhor (cf.
Is 61,1-3), esse Cristo, Ele mesmo, “nos ama e por Seu sangue nos libertou dos nossos pecados e fez de nós um reino, sacerdotes para Seu Deus e Pai” (Ap1,5-6).
Por
tudo isto, é prenhe de significado que nesta Missa os óleos sejam
abençoados e o Crisma, consagrado. São os óleos com os quais a Igreja
ungirá, concedendo ministerialmente a graça que frutificou da paixão,
morte e ressurreição do Sumo Sacerdote Jesus, o Cristo, o Ungido pelo
Pai com o Espírito Santo! Eis por que a Igreja vai cantar ao acolher
daqui a pouco o óleo para o Crisma:
“O óleo a ser consagrado
desceu do Trono fecundo;
por nós vai ser ofertado
a Quem salvou este mundo!”
Este
“Trono fecundo” é, na verdade, um tronco, uma árvore, um madeiro: é o
lenho da cruz do Senhor! Do Seu sacrifício, da Sua vida toda entregue
sacerdotalmente “até o fim” (Jo 13,1), brota a vida divina, que
é o próprio Espírito Santo, cujas força e graça atuam neste Crisma
bendito! E durante todo o ano litúrgico faremos experiência dessa graça!
Com este Crisma serão ungidos os altares e as novas igrejas, serão
ungidos os batizados e crismados, serão ungidas as mãos dos novos
sacerdotes e a cabeça dos novos bispos! Eis o sentido profundo de tudo
isto: o sacrifício pascal do Sumo e Eterno Sacerdote Jesus nosso Senhor,
torna fecunda e salvífica toda a vida da Igreja! A entrega sacerdotal
de Si mesmo que Nosso Senhor fez a vida toda, frutificou em salvação
para nós e para o mundo inteiro.
Caríssimos
Irmãos no sacerdócio ministerial, quis o Senhor Jesus chamar-nos a
participar sacramentalmente do Seu sacerdócio, sem merecimento algum de
nossa parte. São especialmente para nós, hoje, as palavras da Profecia
de Isaías: “Vós sois os sacerdotes do Senhor, chamados ministros de nosso Deus”.
Eu vos recompensarei por vossas obras, segundo a verdade, e farei
convosco uma aliança perpétua. Vossa descendência será conhecida entre
as nações, e vossos filhos se fixarão no meio dos povos; quem os vir há
de reconhecê-os como descendentes abençoados (cf. Is 61,6-9). Mas, este
sacerdócio, verdadeiro tesouro que nos foi confiado, somente tem sentido
quando é vivido em união de vida e de sentimento com o Sumo Sacerdote
Jesus, com Ele, o Bom Pastor que deu a vida pelas Suas ovelhas (cf. Jo
10,15), que fez de toda a Sua existência humana uma doação sacerdotal!
É
urgente, é indispensável que retomemos a consciência de que nosso
sacerdócio – que não é nosso, mas Dele, do Senhor – não é uma profissão,
não é um simples fazer, um expediente funcional que prestamos em certos
momentos, mas um viver, um estilo de vida que deve possuir e plasmar
toda a nossa existência: viver como padres, pensar como padres, agir
como padres! Cabe bem recordar aqui as palavras do Beato João Paulo II,
quando pregava na Missa de Ordenação sacerdotal no Maracanã, no
longínquo julho de 1980: “Com o rito da Sagrada Ordenação sereis
introduzidos, filhos caríssimos, em um novo gênero de vida, que vos
separa de tudo e vos une a Cristo com um vínculo original, inefável,
irreversível. Assim, a vossa identidade se enriquece com uma outra nota:
sois consagrados. Esta missão do Sacerdócio não é um simples título
jurídico. Não consiste apenas num serviço eclesial prestado à
comunidade, delegado por ela, e por isso revogável pela mesma comunidade
ou renunciável por livre escolha do “funcionário”. Trata-se, ao
contrário, de uma real e íntima transformação por que passou o vosso
organismo sobrenatural por obra de um “sinete” divino, o “caráter”, que
vos habilita a agir “in persona Christi” (nas vezes de Cristo), e por
isso vos qualifica em relação a Ele como instrumentos vivos da Sua ação.
Compreendeis agora como o sacerdote se torna um “segregatus in
Evangelium Dei” (separado para anunciar o Evangelho de Deus) (cf. Rm
1,1); não pertence mais ao mundo, mas se acha doravante num estado de
exclusiva propriedade do Senhor. O caráter sagrado o atinge em tal
profundidade que orienta integralmente todo o seu ser e o seu agir para
uma destinação sacerdotal. De modo que não resta nele mais nada de que
possa dispor como se não fosse sacerdote, ou, menos ainda, como se
estivesse em contraste com tal dignidade. Ainda quando realiza ações
que, por sua natureza são de ordem temporal, o sacerdote é sempre o
ministro de Deus. Nele, tudo, mesmo o profano, deve tornar-se
“sacerdotalizado”, como em Jesus, que sempre foi sacerdote, sempre agiu
como sacerdote, em todas as manifestações de Sua vida. Jesus nos
identifica de tal modo Consigo no exercício dos poderes que nos
conferiu, que a nossa personalidade como que desaparece diante da Sua,
já que é Ele quem age por meio de nós. Pelo Sacramento da Ordem o
sacerdote se torna efetivamente idôneo a emprestar a Jesus nosso Senhor a
voz, as mãos e todo o seu ser. É Jesus quem, na Santa Missa, com as
palavras da consagração, muda a substância do pão e do vinho na do Seu
corpo e do Seu sangue. É o próprio Jesus quem, no Sacramento da
Penitência, pronuncia a palavra autorizada e paterna: ‘Os teus pecados
te são perdoados’ (Mt 9,2; Lc 5,20; 7,48; cf. Jo 20,23). É Ele quem fala
quando o sacerdote, exercendo o seu ministério em nome e no espírito da
Igreja, anuncia a Palavra de Deus. É o próprio Cristo quem tem cuidado
dos enfermos, das crianças e dos pecadores, quando os envolve o amor e a
solicitude pastoral dos ministros sagrados”.
Caríssimos
e amados Irmãos no sacerdócio, Presbitério de Aracaju, é grande o
mistério que nos envolve desde o dia sagrado da nossa Ordenação!
Cuidemos de viver, pensar, sentir e agir como sacerdotes! Cuidemos de
evitar uma maldita concepção que reduz nosso sacerdócio a realidade
meramente funcional. Chamados e consagrados por Cristo somos sacerdotes a
vida toda, por toda a vida e em todos os momentos e atividades da vida!
Nosso ministério será efetivamente verdadeiro e edificará a Igreja de
Deus quando nos dedicarmos ao rebanho integralmente, de corpo e alma,
por amor do Senhor.
Contemplando
o nosso Modelo, o Eterno Sacerdote Jesus, admirados com a graça que
brotou do Seu lado aberto e é dada a toda a Igreja nos óleos a serem
apresentados daqui a pouco, guardemos no coração ainda as palavras de
João Paulo II, na Pastores Dabo Vobis: “A vida e o ministério do
sacerdote são uma continuação da vida e ação do próprio Cristo. Esta é a
nossa identidade, a nossa verdadeira dignidade, a fonte da nossa
alegria, a certeza da nossa vida”.
Que
o Senhor Jesus que nos chamou, confirme em nós aquilo que Ele mesmo
iniciou. Valha-nos para tanto a intercessão da Santíssima Virgem
Imaculada, Mãe de todos os sacerdotes, a intercessão de tantos santos
ministros do Altar que já se encontram na glória e as orações de todo o
Povo de Deus, de modo especial da Assembleia aqui reunida! Amém.
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