terça-feira, 17 de maio de 2011

Formação inicial para a vida comunitária

Da Educação à Formação


Por Seminarista Gedeão Pontes




O ato de educar é o primeiro ato formal pedagógico. É um “tirar para fora” aquilo que o indivíduo tem dentro de si, o que realmente ele é, para que possa realizar o máximo de suas potencialidades. Por sua vez, o educando se liberta de tudo o que se opõe à realização do que ele é chamado a ser. Então, numa vida em comunidade, é importante que seja feito um reconhecimento do formador em relação ao jovem, a fim de identificar a imagem que a comunidade tem em sua mente e em seu coração, a sua predisposição a viver esta relação de amor fraterno.





O reconhecimento supracitado é algo bastante delicado. Ele jamais deve ser feito de modo coletivo, e sim individualmente. Somente o formador e o jovem devem participar deste processo. É algo que obviamente não tem receita própria, pois a trajetória de vida dum grupo de jovens é única para cada um. Todo ser tem o seu modo próprio de perceber as coisas, logo ele carregará suas marcas, suas expectativas próprias.





Enquanto a pessoa não descobrir aquilo que existe em seu coração, quais as raízes de determinado modo de sentir e de fazer, quais as motivações de certos estados de ânimo e qual o verdadeiro significado de alguns de seus desejos e expectativas, ela não poderá afirmar que iniciou o seu caminho formativo, pois não concluiu sequer o seu caminho educativo.





Dentro deste estudo sobre a vida em comunidade, existe o que é chamado de tipologia comunitária. Eis alguns dos tipos mais comuns:





* O extracomunitário: trata-se daquele que não sente a comunidade como a sua própria família e casa. É altamente perfeccionista, crítico e queixoso em relação às coisas caseiras que não funcionam. Ele não se envolve o mínimo necessário na dinâmica comunitária com seus irmãos, não partilha nada de si nem é amigo de nenhum coirmão.





* O anticomunitário: é aquele que considera ter feito tudo por si mesmo, teorizando que cada um deve cuidar de si próprio. Ele fez sucesso na vida sozinho e não perde uma oportunidade de se vangloriar.





* O hipercomunitário: se trata daqueles que de várias formas gostariam de impor à comunidade aquela homogeneidade que nos remete a um colégio ou uma creche. Trata-se da síndrome da utopia comunitária.





* Pseudocomunitário: eles não só vivem em comunidade como se não vivessem, mas vão se tornando também, e cada vez mais, religiosos fingidos, com um coração de plástico e uma fidelidade passiva, pois finge fazer parte da comunidade, de querer bem e de querer o bem dos seus irmãos.





Hoje, as pesquisas comprovam que o que tem feito os religiosos (sacerdotes e não sacerdotes) e religiosas desistirem do seu estado de vida não são problemas referentes à vida celibatária, a crises de fé, a relacionamentos problemáticos com as estruturas ou à falta de vocação, por exemplo, mas sim dificuldades para viver a vida comunitária de forma verdadeira. E isto é algo muito preocupante, pois a falta das virtudes teologais, a fé, a esperança e a caridade, são indicativos da inexistência dos ensinamentos jesuânicos no jovem que se predispõe a um novo caminhar. O Evangelho segundo Mateus no capítulo 7, versículo 24-27, nos alerta para o fato de construirmos nossa casa sobre a rocha. Pode ser que venha a chuva, uma ventania, quem sabe uma enchente... Se a base na qual foi fundada a minha fé for algo que continua se solidificando todos os dias, certamente quando vierem os tormentos, estaremos bem nutridos da força emanada do Cristo Jesus. Saberemos que afora a Nosso Senhor, não temos a que termos medo, pois, cremos naquele a quem obedecem até o vento e o mar (Mc 4, 41).





Texto baseado no capítulo segundo, do livro Fraternidade a caminho: rumo à alteridade de Amadeo Cencini. Ed. Paulinas. 2003

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...