sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Brasil: Há 22% mais igrejas e 31,8% mais párocos do que em 2000

Revista Isto É


Uma igreja sem padre, uma fé sem igreja. Entre os europeus esse cenário é mais do que possível. A descristianização da Europa, que outrora foi responsável por levar o Evangelho à América Latina, atingiu um grau tão elevado que há uma corrente de teólogos que acredita que o catolicismo esteja dando adeus ao Velho Continente.
Na Holanda, por exemplo, a diocese de Den Bosch, no sul do país, estuda deixar na ativa apenas um quinto das atuais 250 paróquias. O destino da maioria delas poderá ser a transformação em museus e livrarias, o funcionamento esporádico com missa apenas uma vez por semana ou a demolição. “Não há padres, fiéis ou dinheiro suficientes para mantê-las”, diz o frei Jan Bolten, um holandês que, por mais de 40 anos, foi missionário no Brasil e que há três foi escalado para retornar para a sua terra natal. “Os bispos daqui estão buscando padres no Exterior.” Um dos países que têm exportado seus sacerdotes para o Velho Mundo é o Brasil, que outrora mandava seus jovens vocacionados para a África e Ásia.
Bolten e os freis João de Deus Campos, 42 anos, e Luciano Henrique Veras Tito, 33, desembarcaram no frio vilarejo de Handel, no município de Gemert, próximo da Alemanha, com a missão de não permitir que a chama da congregação dos carmelitas descalços se apagasse. Os três moram na paróquia Nossa Senhora da Assunção e formam uma atuante comunidade católica, algo que não existia quando a igreja era tocada por um holandês. Mineiro de São Lourenço, João de Deus era vigário paroquial em Caratinga (MG) antes de se mudar para a Europa. “Mas eu não celebro somente em Handel”, diz ele. “Já rezei missa em outras 20 igrejas holandesas.”
A Holanda já foi a maior fornecedora de missionários católicos para o Brasil, meio século atrás. Entre os europeus, o envelhecimento do clero e a diminuição das vocações têm exposto a vida eclesial da região a uma enorme fragilidade.
No Brasil, por outro lado, o novo Anuário Católico, que será distribuído pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) , mostra um cenário diferente. Aqui, apesar de ainda haver pouco padre por habitante (um para cada 8.624), o número de paróquias e de sacerdotes está em crescimento.
Segundo o Anuário, há 22% mais igrejas e 31,8% mais párocos do que em 2000. “O apelo para as vocações sacerdotais tem se intensificado nos últimos anos e vem sendo realizado pelas tevês católicas e as novas mídias, como sites e redes sociais”, afirma a socióloga da religião Sílvia Fernandes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). “Por outro lado, a figura do padre está se modernizando e dialogando mais com a sociedade, o que pode também funcionar como um fator de atração para a juventude.”
Padre da paróquia Divino Espírito Santo, em Arthur Alvim, zona leste de São Paulo, o paranaense Cláudio Francisco de Oliveira, 38 anos, passou quatro anos celebrando na igreja São José, em Madri, na Espanha, entre 2005 e 2009. Chegou àquele país para cursar um doutorado, mas foi cooptado para celebrar na capital espanhola durante o período de estudos. “Os padres jovens são minoria e alguns celebram no esquema de rodízio. Um amigo de Bilbao, onde há uma residência sacerdotal com 400 padres aposentados, cuida de cinco paróquias”, conta Oliveira, que também acumulava funções rezando cinco missas por semana em uma residência de idosas.
O pároco paranaense relata que no País Basco há seminários sem nenhum aluno. “Lembro que as cidades de Bilbao, São Sebastião e Vitória uniram seus seminários e mesmo assim havia apenas seis estudantes no total”, conta ele. A importação europeia de sacerdotes tem feito com que alguns bispos da América Latina e da África sintam receio de enviar seus padres para estudar no Exterior por conta da possibilidade de não tê-los de volta.
A preocupação chegou ao Vaticano, que, em uma carta assinada pelo papa Bento XVI, recomenda aos bispos da África que orientem seus padres a retornar à terra natal após finalizar os estudos na Europa. Essa indicação foi seguida pelo padre Oliveira, que voltou ao Brasil, apesar de ter recebido uma proposta para seguir a vida eclesial na Espanha.

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